Apesar de ter apenas dois anos e meio - um hipopótamo vive, em média, 40 anos -, Yago já sofreu sérios problemas dentários. A causa não está relacionada ao que come, mas sim a um problema comportamental. O animal criou o vício de roer as paredes do recinto onde vive e desgastou os dentes até a exposição do canal dentário, o que causava dor e o impedia de se alimentar corretamente.
"Em animais, o vício de roer paredes e objetos se assemelha ao bruxismo nas pessoas. O problema, que causa a destruição gradativa do dente, pode expor o canal, algo muito grave e dolorido. Pode provocar também infecções e levar à morte do animal", explica o veterinário Roberto Fecchio, especialista em odontologia de animais selvagens, que coordenou a equipe responsável pelo tratamento de Yago.
Por causa da extensão do problema, o hipopótamo precisou de tratamento de canal em quatro dentes, além de próteses dentárias para protegê-los de novos desgastes. O tratamento exigiu planejamento de meses, com cerca de 20 profissionais envolvidos, entre médicos veterinários, biólogos, dentistas, protéticos e tratadores.
A logística de trabalho exigiu modificações na estrutura do recinto para permitir o manejo do animal e minimizar riscos. Os hipopótamos, apesar de parecerem mansos nos desenhos animados, estão longe de serem assim.
Além da agressividade, os hipopótamos têm particularidades que dificultam os procedimentos dentários, como o tamanho dos dentes e o fato de eles crescerem ao longo de toda a vida do animal.
"Não existe material odontológico para animais deste porte e, assim, precisamos adaptar muitas coisas. O acesso ao canal é feito com o uso de furadeiras domésticas, por exemplo", relata Fecchio.
Cirurgias odontológicas em animais implicam ainda outro risco: a anestesia.
"A anestesia de hipopótamos é uma das mais difíceis do mundo, com alto índice de mortalidade. No Brasil, pouquíssimos animais dessa espécie foram anestesiados e apenas um, antes do Yago, para a realização de um tratamento odontológico", explica o médico veterinário Cláudio Moura, que coordenou a equipe responsável pelo procedimento.
Moldes. Foi necessário solicitar a ajuda dos profissionais da Faculdade de Odontologia Humana da Universidade Potiguar (UNP), em Natal. Eles realizaram a moldagem dos dentes antes da cirurgia, sem a necessidade de anestesiar o animal.
O procedimento durou cerca de quatro horas. Vinte e quatro horas após a cirurgia, Yago já se alimentava e se mostrava ativo. "Esperamos relatar cientificamente o procedimento, em alguma revista da área de medicina de animais selvagens, para que nossa experiência sirva de referência", afirma Fecchio. As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo..