A obra será um marco do Ano da Misericórdia, celebrado pela Igreja em 2016, atendendo ao apelo do papa Francisco, que pediu um gesto concreto de cada diocese em sinal de compaixão e solidariedade dos católicos.
"Vamos acolher de 80 a 100 moradores de rua por semana, para uma permanência de três dias, após os quais serão convidados a morar, por alguns meses, em uma de nossas casas ou em nossos sítios de interior, onde poderão se recuperar e se reintegrar na sociedade", disse padre Gianpietro.
A Missão Belém tem 160 casas em São Paulo, um sítio em Jarinu e dois em Jundiaí, com um total de 2.200 acolhidos. Tem ainda um sítio e seis casas em Belém, no Pará, uma escola numa favela do Haiti e três residências para acolhimento de refugiados na Itália.
A associação não recebe verbas do governo e se mantém com a ajuda de colaboradores. A reforma do Edifício Nazaré, construído em 1942, dependerá de doações particulares e da arrecadação de uma ação entre amigos. Bilhetes de rifa estão sendo vendidos nas paróquias.
Casa de família
"Cada andar do prédio terá um clima de uma casa de família, com um coordenador e voluntários para acolher nossos irmãos, os moradores de rua e drogados que conseguirmos atrair", disse padre Gianpietro.
No primeiro dia, os hóspedes recebem cuidados básicos, como refeição, banho, cama, roupa e exames de saúde. "Alguns chegam tão mal, que parecem vir para morrer conosco", revelou o padre. Alguns andares do prédio terão espaço para palestras, academia, orações e informações sobre a Missão Belém.
Dois andares serão destinados, futuramente, ao acolhimento de mulheres e crianças, que hoje são recebidas na Casa Guadalupe, no bairro do Belenzinho.
As casas de São Paulo acolhem 2.200 pessoas. Das vagas disponíveis, 700 são reservadas a doentes mentais ou físicos, que têm necessidade de permanecer na instituição. "Deus provê tudo, nossos colaboradores nos socorrem quando pedimos feijão, arroz, fraldas e cobertores", diz padre Gianpietro.
Os funcionários são todos voluntários, muitos deles dependentes de droga recuperados.
O ex-morador de rua Raphael de Jesua Cepeda Diniz, de 31 anos, coordenador do Edifício Nazaré, ajuda a planejar a obra de restauração. Ele viveu de perto a realidade das drogas e do crime. Passou alguns dias na cracolândia e na Praça da Sé, depois de 15 anos de vida no crime e na droga, na região de São Mateus, na zona leste. Esteve preso e morou seis anos na rua. Recuperado, diz estar feliz em trabalhar pela reconstrução da vida dos irmãos que todos os dias batem à porta da Missão Belém.
Acolhidos
Os recém-chegados revelam seus nomes, idade, proveniência e problemas pessoais. Plínio, 38 anos, pedreiro, pintor de paredes e eletricista, veio de Ferraz de Vasconcelos; Marco Aurélio, 32 anos, vidraceiro da Capital; Deraci, 39 anos, segurança, de Brasília; Almir, 28 anos, ajudante geral, do Espírito Santo, todos desempregados, buscaram a Missão Belém por indicação de outros moradores de rua.
"Sou motorista de ônibus, mas a essa altura devo ter sido despedido do emprego, porque voltei ao crack e à bebida", disse Robson, de 35 anos, que vinha trabalhando desde o ano passado.
Os sobrenomes desses "irmãos" vindos da rua foram preservados porque alguns deles cometeram crimes que ali não precisam ser confessados. "Somos sustentados pela espiritualidade, não há remédios nesse clima de família, de acolhida e oração", observa padre Gianpietro.
O Edifício Nazaré está "detonado", diz o fundador da Missão Belém, apontando os danos causados por três invasões de sem-teto ao longo dos últimos anos. A reforma vai demorar alguns meses, segundo padre Zacarias, o procurador da Mitra, porque será feita uma revisão geral nos elevadores, instalações elétricas e hidráulicas, banheiros, cozinhas e dormitórios.
O Estado de S. Paulo..