Também foram cumpridos 23 mandados de busca e apreensão e 17 notificações para depoimento, expedidos pela 4ª Vara Criminal de Vitória e tendo como alvos policiais militares, familiares de policiais e representantes de associações classistas.
Foram presos preventivamente Ângela Souza Santos e Cláudia Gonçalves Bispo, casadas com PMs, o ex-cabo da PM e atual presidente da Associação dos Beneficiários da Polícia e Bombeiros do Estado do Espírito Santo (Aspobom) Walter Matias Lopes e o policial militar Leonardo Fernandes Nascimento. Eles prestaram depoimento na sede do Ministério Público e depois foram encaminhados ao Quartel do Comando Geral da Polícia Militar (QCG), em Maruípe, bairro de Vitória. Todos são acusados de cometer os delitos de associação criminosa, atentado contra a segurança de serviço de utilidade pública, apologia de fato criminoso, motim/revolta e ameaças a autoridades, entre outros.
Os promotores de Justiça já começaram a analisar os documentos e equipamentos apreendidos e continuarão a colher depoimentos de testemunhas e investigados. O nome da operação, "Protocolo Fantasma", foi sugerido pela Corregedoria da PM e faz referência a um dos filmes da série "Missão Impossível", em que uma equipe investiga para tentar limpar o nome da instituição em que trabalha.
A juíza Gisele Souza de Oliveira, da 4ª Vara Criminal de Vitória, deferiu o pedido feito pelo Ministério Público e autorizou que promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) iniciassem a operação, que tem como principal objetivo identificar e punir os responsáveis por fomentar movimentos que têm impedido a Polícia Militar de atuar no Espírito Santo de forma regular. Para o Ministério Público, a transcrição de conversas telefônicas interceptadas legalmente e já apresentadas à juíza são fundamentais para demonstrar de que maneira funciona a suposta organização.
Em trecho de uma conversa interceptada na última quinta-feira (16), uma das pessoas investigadas afirma já ter passado nos batalhões para organizar um novo protesto. A pessoa afirma que os policiais concordaram em fechar as unidades. Segundo os autos, a pessoa que dizia já ter acertado tudo com a polícia é uma das líderes do movimento paredista.
Além de afirmar já ter articulado com os batalhões o início das possíveis paralisações, a pessoa suspeita de liderar o movimento também alegou que precisaria mobilizar mais mulheres para obstruir as unidades policiais.
Em outro momento da conversa, a suposta líder do movimento relata que, durante protesto realizado na quinta-feira (16), a atuação do grupo atrapalhou o trânsito no entorno da Praça Costa Pereira, no centro de Vitória.
Ao fundamentar a decisão, a juíza destacou que "as consequências nefastas do movimento paredista da Polícia Militar em nosso Estado culminaram com duas centenas de mortes, uma onda de saques e furtos a estabelecimentos comerciais e suspensão de aulas, da atividade comercial, do transporte público e até das atividades do próprio Poder Judiciário."
A juíza relatou ainda que "nesse período, a sociedade capixaba ficou abandonada à própria sorte, com seus cidadãos trancafiados em suas residências, impedidos, pela onda de violência, de exercer o direito constitucional de ir e vir. Tratou-se de situação até então nunca experimentada, naquela dimensão, pela sociedade capixaba".
"Creio não existir na literatura jurídica nem na jurisprudência produzida pelos nossos tribunais outro exemplo de situação que melhor encarne a justificativa de garantia da ordem pública, considerando essa como a necessidade de preservação da boa convivência social", concluiu a juíza. (Fábio Grellet).