A fortificação do sal com iodo é uma política pública iniciada na década de 1950 e o monitoramento subsidia as revisões na taxa de iodação quando necessárias. A pesquisa, concluída em 2016, avaliou a presença de iodo na urina de cerca de 19 mil estudantes com idade entre seis e 14 anos de escolas públicas e privadas em 477 municípios. Foram analisados os dados coletados em duas fases, a primeira entre 2008 e 2009, a segunda entre 2013 e 2014. O resultado mostrou que 9,7% das amostras tinham déficit, sendo 6,9% considerados leves. Outros 20,4% tinham taxa de iodo adequada e 69,8% apresentaram o nutriente em excesso - acima de 200 microgramas por litro.
De acordo com o coordenador de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Eduardo Augusto Fernandes Nilson, a pesquisa confirma o impacto da iodação do sal na prevenção e controle dos distúrbios por deficiência de iodo, reforçando os avanços do país no combate a essas carências.
Conforme a pesquisa, em nenhuma unidade da federação, a média de iodo estava abaixo do ponto de corte indicador de deficiência pela OMS, mas foram notadas diferenças entre regiões. Em Estados da região norte e centro-oeste, por exemplo, houve um grau maior de deficiência em comparação com as outras. Para o pesquisador Juraci Cesar, da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), um dos responsáveis técnicos pela pesquisa, o fato pode ser explicado pelo uso culinário do sal destinado à nutrição do gado, que não é iodado. Estados como Mato Grosso, Tocantins, Goiás e Maranhão são grandes criadores de gado.
Muito iodo
A pesquisa mostrou que, dos 69,8% com mais iodo que o necessário, 44,6% o tinham acima de 300 mg/kg, o que também pode ser prejudicial. Pesquisa realizada em 2005 pela Universidade de São Paulo (USP) concluiu que, nesse nível, o iodo pode acarretar problemas à tireoide, como a tireoidite de Hashimoto. Os maiores excessos foram encontrados em Estados do Nordeste.
De acordo com Nilson, para evitar o consumo excessivo, a taxa de iodo no sal de cozinha já foi reduzida. "Quando os primeiros resultados da pesquisa detectaram a ingestão excessiva de iodo por parte da população, a Anvisa e o Ministério da Saúde ajustaram a faixa de iodação do sal. Ou seja, reduziu-se o nível máximo permitido de iodo no sal, mas o nível mínimo ficou próximo do que era." A taxa de iodação do sal no Brasil, que era de 20 a 60 miligramas por quilo, foi reduzida para 14 a 45 mg/kg.
Como o ajuste foi feito em 2013, com a pesquisa em andamento, o impacto deve aparecer nas próximas avaliações. Ainda assim, segundo ele, os estudos demonstram que a carência de iodo é mais prejudicial à saúde que o excesso. "Evidências mais recentes provam a associação da deficiência de iodo na gestação à redução do QI (quociente de inteligência) das crianças, em função da importância do nutriente na formação neurológica do bebê."
Em comunicado sobre a redução do iodo no sal, a Federação Latino Americana de Endocrinologia (Felaen) defendeu a iodação. De acordo com o Departamento de Tireoide, os problemas decorrentes da deficiência são "gravíssimos e incontestáveis", como bócio, hipotireoidismo, surdo-mudez, retardo mental e retardo do desenvolvimento físico, enquanto em relação ao excesso, "não existem pesquisas suficientes para comprovar algum malefício à população".
As ações para reduzir na população o consumo de sódio - o sal presente na maioria dos alimentos industrializados -, visando à prevenção de doenças cardiovasculares e renais, também podem equilibrar as taxas de iodo, mas devem ser monitoradas, segundo Nilson.
No mundo, a região mais protegida dessas deficiências é a América Latina, pois a maioria dos países adota a política de fortificar o sal com iodo. A pesquisa foi feita em parceria entre a FURG e a Universidade Federal de Pelotas, com acompanhamento técnico do Ministério da Saúde..