A 2ª Conferência Nacional de Saúde das Mulheres (CNSM) terminou neste domingo (20), no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, com uma mensagem clara: machismo mata e adoece, e, por isso, deve ser visto como uma questão de saúde pública. Outro recado dado em alto e bom som pelas 1,8 mil delegadas presentes foi a disposição de cobrar do governo ações concretas que enfrentem o problema e melhorem o atendimento na rede pública para a população feminina.
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Em vídeo, alunas da Poli-USP questionam machismo na universidadeMulheres fazem ato contra o machismo e por direitos no RioGrupo Anonymous volta a atacar hackeando empresa acusada de machismoMachismo é 'maldição espiritual', diz pastor; curso promete curaQuase 320 propostas devem integrar o relatório final da conferência, reunindo demandas apresentadas desde o começo do ano em conferências municipais, estaduais e, agora, referendadas em Brasília. Em 22 de setembro, a Comissão Nacional Organizadora se reunirá para produzir o relatório final, que será apresentado em outubro ao Conselho Nacional de Saúde (CNS).
“As mulheres têm que lutar por um atendimento melhor. O que fizemos aqui, durante a conferência, foi só mostrar como tem que ser esse atendimento”, comentou a coordenadora-geral do evento, a catarinense Carmem Lucia Luiz, que representa no CNS a União Brasileira de Mulheres (UBM) e é enfermeira sanitarista com 33 anos de experiência. “Acredito que, no mínimo, tem de ser um atendimento que considere o segmento ao qual cada uma pertence, um atendimento mais integral, que veja a mulher como um todo, que considere e respeite a diversidade da nossa realidade.”
Machismo
Para os presentes, está claro que a questão de gênero está intimamente ligada à saúde. As relações desiguais, com a desvalorização da mulher, favorecem violências física ou psicológica, que causam depressão, condições de subsistência inadequadas, lesões corporais e morte. De acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) presentes no Mapa da Violência 2015 - Homicídios de Mulheres no Brasil, para cada grupo de 100 mil mulheres brasileiras, eram 4,8 assassinatos, número que é o quinto pior entre os dados de 83 países.
“Machismo mata, causa doença, vira depressão, ou seja, é problema de saúde, sim”, diz o presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Ronald Arantes. “Por isso é importante uma política pública para o enfrentamento do conjunto das iniquidades”, argumenta o responsável pelo órgão do Ministério da Saúde (MS) que dá diretrizes para o Sistema Único de Saúde (SUS). Essas três instit uições estão à frente da organização da conferência, que terminará amanhã (domingo), com a apresentação de um relatório com propostas para atualização da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher.
A 2ª Conferência Nacional de Saúde da Mulher foi iniciativa conjunta do CNS, do Ministério da Saúde (MS) e do Sistema Único de Saúde (SUS). A primeira CNSM foi em 1986. Naquele ano, o MS fazia pela oitava vez a Conferência Nacional de Saúde, que se repete a cada quatro anos e já chegou à 15ª edição. Também a Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e a Conferência Nacional de Saúde Indígena são quadrienais e, respectivamente, já se repetiram cinco e seis vezes. “Isso, o número de edições, é revelador do quanto o problema do machismo institucional não é visto, não está sendo olhado”, aponta Arantes.