Rio, 22 - A maior parte dos moradores de favelas com Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) não considera que elas tenham melhorado sua vida, nem sua sensação de segurança. Mas também não considera que tenham trazido problemas às comunidades onde vivem - e quase 60% preferem que elas permaneçam, embora com mudanças.
Os impactos do programa, instalado em 38 favelas a partir de 2008 com o objetivo de reduzir a criminalidade e a circulação de armas pesadas, foram analisados pelo Centro de Estudos de Segurança Pública e Cidadania (CESec) da Universidade Candido Mendes. Seis em cada dez entrevistados disseram que as UPPs não trouxeram benefícios à comunidade.
A pesquisa, cujos resultados são divulgados oficialmente e analisados nesta terça-feira, 22, também perguntou aos moradores: "em que momento você se sentiu mais seguro na comunidade?". Descobriu que para 44% dos moradores a UPP não fez diferença nesse ponto; constatou também que para 35,8%, a sensação de segurança aumentou depois da instalação da UPP. Para 16,8% (quase um em cada cinco), era mais seguro antes da chegada das unidades.
Quando a pergunta foi sobre o tratamento dado pelos policiais da UPP à maioria dos moradores, quase um em cada quatro entrevistados (23,9%) disse ser ruim/péssimo. Foi um empate técnico (diferença de 0,9 ponto porcentual) com aqueles que consideraram bom ou ótimo (24,8%). Nesse quesito, o primeiro lugar ficou com o regular (41,4%).
O trabalho constatou que, de cada dez entrevistados, praticamente seis (59,7%) querem a permanência da UPP, e quase quatro (35,9%), sua saída. Entre os que desejam que fique, porém, pouco mais de quatro em cada dez (43,7%) apontam a necessidade de mudanças.
A pesquisa tem 95,5% nível de confiança e foi feita em 118 favelas de diferentes tamanhos.
Os pesquisadores concluíram que o Estado do Rio mantém a lógica de guerra às drogas, com operações constantes para prender traficantes e apreender drogas e armas. Isso se dá em detrimento da ideia de polícia de proximidade, pressuposto básico do projeto. Tal dinâmica leva ao descrédito das UPPs pela população das favelas.
Inicialmente anunciadas pelo então governador Sergio Cabral Filho (PMDB) e o secretário de Segurança José Mariano Beltrame como uma solução para a violência nas favelas e suas repercussões no "asfalto", as UPPs passam por grave crise. Ela é evidenciada nos últimos anos pela volta dos tiroteios entre policiais e traficantes.
Especialistas apontam que o ponto de inflexão foi 2013, quando do desaparecimento e assassinato do auxiliar de pedreiro Amarildo de Souza, depois de preso por PMs da UPP da Favela da Rocinha, na zona sul.
(Roberta Pennafort).