Rio, 24 - A iminente retirada de 3 mil PMs de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), anunciada para intensificar o patrulhamento nas ruas e reduzir os índices de criminalidade no Estado, deverá penalizar a população das favelas, acreditam oficiais da reserva da corporação e moradores de comunidades assistidas ouvidos nesta quarta-feira, 23, pela reportagem. Criado em 2008, o programa chegou a reduzir em até 65% as mortes nas áreas em que foi instalado, mas está em crise há pelo menos quatro anos, com a intensificação de tiroteios, casos de balas perdidas e ataques a policiais.
No lançamento, as UPPs foram apresentadas à população pelo então governador Sergio Cabral Filho (PMDB) como a solução para a violência no Rio, por focar na expulsão de traficantes e na retirada de fuzis das comunidades. Representava, no discurso oficial, uma mudança nas relações entre PMs e moradores das favelas e uma trégua na lógica da guerra às drogas, implementada há décadas e marcada por ações sangrentas.
O redesenho, que atrela as UPPs aos batalhões da PM, é defendido pela Secretaria de Segurança para tentar conter o crescimento dos indicadores, como o de letalidade violenta. De janeiro a junho deste ano, crimes como homicídios e roubos seguidos de morte subiram 16,3% em relação ao mesmo período de 2016, com ocorrência de 19 mortes por dia. Outro motivo alegado pela pasta para as mudanças nas UPPs é a crise financeira do Estado, que impede a contratação de novos policiais.
Acho que a tendência é tirar tudo, dar cabo do projeto. Nas próximas eleições, deve acabar. No início, a UPP funcionou, mas agora é raro não ouvirmos tiro. A pacificação não existe.
Em sentido inverso, Sebastião Gonçalves, representante dos moradores do Morro do Salgueiro, não quer mudança. A favela onde mora, na zona norte, recebeu uma UPP em 2010 e viu a violência desabar. Eu não quero que mude nada, temos ótimo relacionamento com a UPP. A polícia não respeitava, agora respeita. Estou com muito receio, lamentou.
Desmonte
Ex-comandante da PM do Rio, o coronel da reserva Ibis Silva manifestou dúvidas sobre a decisão de incorporar as UPPs aos batalhões. Para ele, as pacificadoras estão sendo desmontadas.
O atual comandante da PM, coronel Wolney Dias, declarou ontem à Rádio CBN que está falando uma grande besteira quem diz que o projeto acabou. Declarou ainda que o remanejamento de PMs que realizavam apenas atividades administrativas nas UPPs e as mudanças na escala de trabalho representam a queima de uma gordura no sistema. As UPPs cresceram muito e houve um descuido. Tivemos de nos adequar ao quadro econômico-financeiro do Estado. A sociedade clama por mais policiamento nas ruas. Em momentos de crise, temos de ser criativos, fazer mais com menos.
Para o ex-comandante das UPPs Robson Rodrigues, o plano pode significar o fechamento do caixão do programa.
Falta de verba
Em almoço com a bancada do PMDB no Senado, o ministro da Justiça, Torquato Jardim, afirmou que a falta de recursos tem afetado um investimento maior na área de segurança no País, segundo relataram senadores que participaram do encontro.
Segundo o líder do PMDB no Senado, Raimundo Lira (PB), o ministro ainda não tem pronto o Plano Nacional de Segurança, que começou a ser elaborado ainda na gestão de Alexandre de Moraes - posteriormente indicado para o Supremo Tribunal Federal (STF) pelo presidente Michel Temer. "O secretário nacional de Segurança ainda está rascunhando o projeto e deve ser apresentado em uma nova reunião com a bancada", afirmou. As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.
(Roberta Pennafort).