Um comerciante que mora em frente à escola onde um adolescente de 14 anos abriu fogo e matou dois colegas nesta sexta-feira conversou com a reportagem e narrou as cenas de desespero que ele viu durante e após o ataque.
"Foi muita correria. Crianças para todos os lados. Tinha muitos pais também que já estavam chegando para buscá-los, porque era quase hora da saída", descreveu Cleiton Lourenço, 43 anos, que conta também ter ficado impactado ao ver duas meninas baleadas sendo retiradas da escola. "Elas estavam enroladas em um lençol, sangrando. É impactante por ser criança. Com adulto a gente até se acostuma a ver. Criança, não", relatou.
Ainda segundo Lourenço, o cotidiano da escola sempre foi pacífico: "É uma escola de médio/alto padrão. A gente nunca espera uma coisa dessas". Na avaliação dele, o fato de o atirador ter sido vítima de bullying — conforme confirmado pela tia de uma colega das vítimas — pode ter sido a motivação para o ataque: "Alguns alunos contaram que outros estudantes chamavam ele de 'fedorento' e planejavam levar um desodorante hoje para ele. Ele deve ter ficado com o psicológico alterado".
Por fim, o comerciante diz conhecer o primeiro policial a entrar na escola e desarmar o adolescente. De acordo com esse PM, o rapaz tinha um outro pente de balas pronto para ser utilizado contra os colegas. "Poderia ter sido uma tragédia bem maior", concluiu.
Ataque
O ataque à escola aconteceu no fim da manhã desta sexta-feira (20/10). Os estudantes João Vitor Gomes e João Pedro Calembro foram baleados e morreram no local. Segundo informações do Corpo de Bombeiros de Goiás, outros quatro estudantes ficaram feridos. Três em estado grave. O atirador e as vítimas estariam no oitavo ano do ensino fundamental.
Três feridos - duas meninas e um menino - foram encaminhados para o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo). Segundo a unidade, os três se encontram em estado grave. Uma quarta vítima foi encaminhada ao Hospital de Acidentados de Goiânia e está internada, porém não corre risco de morte, segundo informações do hospital. Já o atirador foi apreendido pela Polícia Militar de Goiás.
A arma utilizada no crime pertencia à mãe do estudante, uma policial militar. O pai do rapaz também é major da Polícia Militar de Goiás (PMGO).
De acordo com o pai de um dos alunos, o garoto não tinha uma vítima específica e "entrou atirando aleatoriamente". A reportagem procurou o colégio Goyases que, por sua vez, não quis se pronunciar por "não ter condições". As aulas na instituição foram suspensas.
Bullying
O estudante que abriu fogo na escola era alvo de bullying no colégio. Quem confirmou as informações à reportagem foi a tia de uma das colegas de classe do menor, a psicóloga Juliana Matos Gomes, 33 anos.
A sobrinha de Juliana detalhou que o suspeito sentava na última cadeira da sala, era excluído pelos outros jovens e sempre foi alvo de ofensas por causa de seu cheiro. Em uma ocasião, os estudantes chegaram a jogar desodorante no adolescente, como uma "brincadeira".
"Os colegas de sala implicavam com ele por causa do cheiro. (...) Minha sobrinha disse que [o atirador] chegou a mirar na cabeça de um dos meninos que cometia bullying contra ele, mas não sabe se chegou a acertá-lo. Graças a Deus ele não teve o controle de mirar certo", disse.
Segundo a sobrinha da psicóloga, o jovem teria assistido à aula e, no fim, fez os disparos. Ele teria utilizado a arma da mãe, que é militar. Três vítimas foram levadas ao Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) e estão em estado grave. A quarta foi encaminhada ao Hospital de Acidentados de Goiânia, estável.
Justamente nesta sexta-feira (20/10) é celebrado o Dia Mundial de Combate ao Bullying. A data é considerada um alerta internacional para o problema comum, que muitas vezes é negligenciado em esferas públicas. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), uma em cada três crianças do mundo, de 13 a 15 anos, é vítima de bullying em colégios.