Rio, 30 - Foi no Rio que houve a alta mais relevante nos latrocínios em todo o País, segundo o 11º Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta segunda-feira, 30. O número passou de 131 ocorrências em 2015 para 225 no ano seguinte, com crescimento de 70% e a maior elevação absoluta entre os Estados. O fenômeno ocorre em meio à crise fiscal do Estado, com atrasos no pagamento do salário dos servidores e dificuldades de manter políticas públicas, como o sistema de gratificações para agentes de segurança e das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).
O cenário fez com que o presidente Michel Temer autorizasse há um mês o uso de militares das Forças Armadas em áreas como a Favela da Rocinha, na zona sul, onde facções rivais disputam o comando do tráfico. Os militares também têm apoiado as polícias em operações para localizar traficantes e armas.
Diretor do Instituto Igarapé, Robert Muggah vê "aumento dramático da violência" no Rio como resultado de uma "ressaca" após os grandes eventos sediados lá, como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada no ano passado. "O Estado enfrentou cortes orçamentários na segurança justamente quando o que precisava era aumentar investimentos", afirma.
Muggah vê o uso das tropas só como uma anestesia. "Representa um alívio temporário, mas não lida com os fatores estruturais que levaram o Estado a essa situação." Para ele, o Rio precisa retomar seu programa de metas, criado em 2009, com pagamento de gratificações extras para as áreas que atingiam os objetivos traçados. O Estado tem tido dificuldades para manter o sistema de bônus. "O programa foi extremamente eficaz para mobilizar os policiais na redução dos homicídios."
Luto
Os 34 meses que separam a data da morte do seu filho para hoje não diminuíram a dor da jornalista Mausy Schomaker, de 66 anos, mãe de Alex Schomaker Bastos.
Em casa, Mausy havia recebido uma mensagem do filho: ele já estava saindo da faculdade, onde tinha ido acertar detalhes da formatura. O trajeto até o Flamengo, onde morava, não levaria mais do que vinte minutos naquele horário, às 21h30. Mausy já pensava na comida que iria esquentar para o jantar.
Mas quem chegou não foi Alex, mas a polícia, com a notícia do crime. Dois homens haviam aparecido em duas motos e avistaram Alex com o celular na mão. O rapaz se assustou. Foi jogado no chão e alvejado quando um determinou ao parceiro: "Mata logo".
Desde então Mausy e o marido, o também jornalista Andrei Bastos, ouvem o elogio: "Nossa, como vocês são fortes e corajosos!" Isso porque, mesmo abalado, o casal se mobilizou para transformar o espaço onde fica o ponto de ônibus numa praça, com apoio da prefeitura do Rio.
"Não sou forte nem corajosa", rebate Mausy, que antes da missa de sétimo dia correu a um tatuador, com o marido, para gravarem na pele cópias de tatuagens que o filho tinha. "Eu choro todos os dias, quando ando na bicicleta dele, quando vou ao supermercado e, por segundos, penso em comprar o xampu que ele gostava", conta. "Mas desde o início vi que não podia ficar na cama. Não posso sair na rua dizendo o quão triste estou, da saudade horrorosa."
Os dois assassinos foram localizados cinco meses depois do crime e condenados a 28 anos de prisão. Mausy não se sente reconfortada por saber que estão fora de circulação. "Cada vez que vejo uma mãe abraçada a um caixão penso que a morte do Alex não mudou nada.
"Ando de madrugada, às vezes torcendo para ser assaltada. Acho que vou bater, matar, morrer. A gente não tem medo mais, fica meio vazia mesmo."
Integração
Em nota, a Secretaria de Segurança do Rio disse que tem trabalhado para reduzir os indicadores de violência. A pasta informou ainda que a criação de um grupo - que integra as inteligências do governo federal, as polícias Rodoviária Federal, Militar e Civil, além de órgão penitenciários - "vem ajudando na elucidação de crimes, como os latrocínios."
Em 2017, a tendência continua sendo de alta nos latrocínios. Conforme o Instituto de Segurança Pública, que faz a compilação oficial dos índices da violência do Estado, foram 176 registros de janeiro a agosto. No mesmo período do ano passado, foram 143 casos. O aumento já é de 23%.
As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.
(Marco Antônio Carvalho e Roberta Pennafort).