São Paulo, 07 - A nova versão da parte de Língua Portuguesa da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em fase final de discussão, avançou muito em relação à anterior. Ao lerem o texto que deve ser votado nesta quinta-feira, 7, pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), educadores elogiaram o fato de ele incluir a tecnologia, abordando o trabalho com textos digitais, e dar ênfase ao uso da linguagem em vários campos, incluindo literatura e jornalismo.
O documento, que vai traçar objetivos de aprendizagem para todas as escolas nos níveis infantil e fundamental, foi revisado pelo Ministério da Educação (MEC) pela quarta vez. A parte referente ao ensino médio será analisada posteriormente, já considerando a reforma proposta pelo atual governo.
O jornal
O Estado de S. Paulo
teve acesso ao texto, apesar de o governo anunciar que não divulgaria a BNCC antes de passar por votação. O conteúdo está sendo analisado pelo CNE desde Segunda-feira.
"Sinaliza que a escola deve estar atenta aos usos que o texto tem, às práticas reais", diz a professora do Instituto Vera Cruz, Maria José Nóbrega. Para ela, a versão anterior da base curricular dava pouca importância aos textos literários, por exemplo, e ainda não tinha rigor técnico. Agora, acredita, o novo texto ajuda o professor a entender como deve trabalhar. "Ele vê que não se deve ler textos jornalísticos como se lê literatura."
Para a diretora pedagógica da Escola da Vila, Fernanda Flores, essas novas considerações mostram que "escrever e ler são práticas sociais".
"Esta versão promove a ampliação do letramento, incluindo não só a linguagem escrita, mas todos os textos relacionados a novas tecnologias, como vídeos, áudios e podcasts", afirma a presidente do conselho do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), Anna Helena Altenfelder.
A especialista afirma que a base curricular demonstra ainda preocupação com o ensino de uma leitura crítica, importante para que o estudante consiga classificar as diferentes informações que recebe por meio da internet e das redes sociais. "Um exemplo é estimular os alunos a comparar informações sobre o mesmo fato em diferentes mídias, aprender a checar a confiabilidade da fonte."
Matemática
A Matemática, segundo especialistas, não mudou muito em relação à versão anterior. "O texto apenas diz que é a favor da tecnologia, mas não como ela se conecta ao conteúdo", diz Antonio José Lopes, pesquisador e fundador do Centro de Educação Matemática. Ele também considera que o conteúdo da área é extenso demais, principalmente para escolas públicas, e "engessado", porque determina o que deve ser aprendido em cada série. "É uma estrutura apropriada para fazer apostilas de cursinho."
A área destinada à educação infantil foi elogiada.
Membro do Conselho Estadual da Educação e professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), Luís Carlos de Menezes também destaca pontos positivos do novo documento na área de Ciências da Natureza, como a ampliação dos conteúdos de meio ambiente e de geologia e a simplificação da linguagem. "Isso ocorre principalmente para os anos iniciais e é correto - para que não sejam usados tantos termos técnicos", afirma.
Gênero
Após polêmicas na BNCC, as questões de gênero e de orientação sexual podem ter uma diretriz específica, elaborada a partir de uma discussão na sociedade. O assunto será colocado em votação nesta quarta no Conselho Nacional de Educação como uma emenda ao documento. O tema foi inserido pelo MEC em uma área recém-criada de ensino religioso.
As questões de gênero estão descritas como habilidades apenas para o 9º ano do fundamental. A base curricular indica que os adolescentes devem "discutir as distintas concepções de gênero e sexualidade segundo diferentes tradições religiosas e filosofias de vida". As informações são do jornal
O Estado de S.
(Renata Cafardo, com colaboração de Fabiana Cambricoli).