São Paulo, 08 - Os compositores João Bosco e Aldir Blanc divulgaram notas de repúdio à operação da Polícia Federal (PF) batizada de "Esperança Equilibrista", uma alusão ao clássico "O Bêbado e o Equilibrista", hino dos anistiados da ditadura militar que exaltava "a volta do irmão do Henfil e de tanta gente que partiu".
A ação que foi batizada com uma passagem da canção foi a que conduziu coercitivamente, no último dia 6, o reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Jaime Arturo Ramirez, a vice-reitora, Sandra Regina Goulart Almeida, e o presidente da Fundação de Desenvolvimento e Pesquisa (Fundep), Alfredo Gontijo de Oliveira. A operação apura um suposto desvio de cerca de R$ 4 milhões em recursos públicos na construção do Memorial da Anistia Política do Brasil.
Em reação, duas notas foram divulgadas pelos artistas. A primeira, assinada apenas por Bosco, fala de sua indignação ao ver a canção, de 1979, associada à ação da PF: "Como vem se tornando regra no Brasil, além da coerção desnecessária (ao que consta, não houve pedido prévio, cuja desobediência justificasse a medida), consta ainda que os acusados e seus advogados foram impedidos de ter acesso ao próprio processo, e alguns deles nem sequer sabiam se eram levados como testemunha ou suspeitos. O conjunto dessas medidas fere os princípios elementares do devido processo legal. É uma violência à cidadania".
Sobre a utilização da canção, Bosco escreveu: "Essa canção foi e permanece sendo, na memória coletiva do país, um hino à liberdade e à luta pela retomada do processo democrático. Não autorizo, politicamente, o uso dessa canção por quem trai seu desejo fundamental."
Já a nota assinada também por Aldir Blanc é mais irônica e repleta de referências ao momento político do País:
"Depois da operação 'Esperança Equilibrista', João Bosco e eu esperamos que a Polícia Federal prenda também Temereca, Mineirinho Trilhão157, que foi ajudado pela Dra. Cármen Lúcia, e o resto, aquela escória do Quadrilhão que impera, impune, no Plabaixo. A nova Operação se chamaria 'De frente pros crimes' dos que sempre ficam impunes, com ajudinhas de Gilmares, Moros, PFs, etc.
Em nota, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), órgão do Ministério Público Federal, afirmou ser infeliz a denominação dada à operação policial, a qual se apropria de passagem de música de Aldir Blanc e João Bosco".
(Gilberto Amêndola).