A decisão de assumir a homossexualidade ainda é um processo complicado para muita gente, independentemente da idade. No entanto, admitir depois dos 50 anos, após um casamento convencional e filhos, tem um peso diferente. A preocupação passa a ser a exposição dos filhos e a manutenção de um relacionamento familiar saudável. Apesar do preconceito, que ainda é forte, um número crescente de pais e avós tem saído do armário provando que não há idade para ser feliz e revelar sua verdadeira orientação sexual.
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Juiz libera 'cura gay' para paciente e garante aos psicólogos a 'plena liberdade científica de pesquisa'Gilmar pede vista e sessão sobre restrição a gays na doação de sangue é suspensoJustiça manda a júri mãe que matou filho por ser gay em CravinhosPreparado para 2018? Veja a lista de feriados e pontos facultativosEsse é o caso de André (nome fictício), de 52 anos, pai de uma criança e dois adolescentes. Ele diz que sempre quis ter uma família e por muito tempo abdicou de um desejo por outro. “Desde cedo percebi a situação, mas me atraía mais a ideia de construir uma família convencional.
Há três anos em uma união estável, ele ainda evita demonstrações públicas de afeto e exposição por causa dos filhos. “Eles tomaram conhecimento aos poucos e foram se acostumando com a situação. Hoje, encaram tudo com certa naturalidade, mas como vivemos em uma sociedade preconceituosa, procuro evitar exposição. Não me sinto à vontade para trocar carinho em locais públicos. Acho bonito ver tantos jovens lidarem com isso com naturalidade, apesar de vivermos em uma sociedade bem preconceituosa”, relata.
Com os filhos adultos, o processo de assumir a orientação sexual foi natural para a aposentada Thusnelda Frick, 63 anos. “Me apaixonei e conversei com eles.
Casada por oito anos com um homem por quem, segundo ela, foi profundamente apaixonada, o relacionamento não deu certo e ela reencontrou o amor na relação com Patrícia Fernandes, 53 anos. “A oportunidade de me apaixonar pela Patrícia aconteceu. Ela é amadurecida, temos uma identificação cultural muito forte, compartilhamos os mesmos interesses. Sou movida por paixões, tenho que me envolver e com ela foi isso”. Elas estão juntas há 11 anos.
Relações familiares
A coragem de viver a verdadeira orientação sexual tem criado novas configurações familiares, alterando o significado da palavra família.
Para Maria Berenice Dias, presidente da Comissão Especial da Diversidade Sexual do Conselho Federal da OAB, no caso de transexuais a aceitação costuma ser mais difícil por causa da visibilidade. “A criança, no caso, passa a ter duas mães, ou dois pais. A pessoa que se assumiu trans troca o nome e dá para trocar também o nome na certidão de nascimento da criança”, explica.
O Brasil avança lentamente rumo a uma legislação mais inclusiva. A união homoafetiva é uma realidade no país desde 2011, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) equiparou a união homossexual à heterossexual. Há quatro anos, foi aprovada a Resolução nº 175 do Conselho Nacional de Justiça, que impede os cartórios brasileiros de se recusarem a converter uniões estáveis homoafetivas em casamento civil. A Dinamarca foi o primeiro país a fazer isso, em 1989. Atualmente, 26 países possuem legislação que permite a união civil entre pessoas do mesmo sexo.
Desde 2013, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou um aumento de 51,7% nos casamentos gays. Entre 2014 e 2015, cresceu mais do que a formalização do compromisso entre casais heterossexuais.
*Estagiárias sob supervisão de Paulo Silva Pinto
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