Três pessoas estão internadas no Hospital de Base contaminadas com criptococose, doença infecciosa letal transmitida por fungos presentes nas fezes de pombos. Dois pacientes receberam alta no início da semana após ficarem quase um mês hospitalizados. O mal causa meningite, complicações cerebrais e pneumonia. O índice de mortalidade, segundo a literatura médica, chega a 70%. Especialistas dizem ser preciso controlar a proliferação dessas aves para reduzir os riscos de infecção.
Embora pareça baixo, os cinco casos são um indicativo da necessidade do monitoramento da população de pombos — considerado praga urbana. Além da criptococose, eles podem transmitir psitacose (que atinge os pulmões), histoplasmose (causa infecções) e salmonelose (afeta o intestino). Os casos não são de notificação compulsória, ou seja, a Secretaria de Saúde não é obrigada a fazer o registro. Mas algumas unidades registraram informalmente casos em 2017. Ninguém morreu no DF com a doença.
Há 19 dias, a família da auxiliar de serviços gerais Valdinéia Almeida Castro, 39 anos, trava uma batalha contra o fungo. Mãe de duas meninas, de 11 e 13 anos, a moradora de Taguatinga faz parte do trio hospitalizado. O primeiro sintoma, uma dor de cabeça forte, apareceu em 3 de fevereiro. Do atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Recanto das Emas à internação no Hospital de Base foram seis dias.
“Os médicos pediram uma tomografia, depois uma ressonância magnética. Havia uma mancha grande no cérebro”, conta a manicure Valquiria Almeida Castro, 43, irmã de Valdinéia.
O fungo causa alterações no trato respiratório e no sistema nervoso central. Dependendo da região do cérebro atingida, diminui a consciência, provoca convulsões, cegueira e surdez. A contaminação ocorre pela aspiração do fungo. “As sequelas são graves. A reação inflamatória pode levar a meningite e a morte”, destaca a neurologista Jerusa Smid da Academia Brasileira de Neurologia.
Controle
O protocolo do Ministério da Saúde destaca como medida preventiva o controle da população dos pombos. “Há locais, como em quadras comerciais, em que o lixo é acondicionado inadequadamente. Não podemos alimentar essas aves”, ressalta a infectologista Joana D’Arc Silva, especialista em medicina tropical.
A Secretaria de Saúde recomenda que em locais onde há muitos pombos os moradores peçam uma inspeção da Diretoria de Vigilância Ambiental, pelo telefone 160. “Os técnicos da diretoria agendarão uma visita para analisar o risco relativo à saúde pública e tomar as providências. A Vigilância Ambiental não faz captura ou eliminação desses animais, porém, nas inspeções, identifica a origem do foco”, explica a pasta, em nota.
A reportagem fez três orçamentos em empresas de dedetização contra pombos. O processo é feito em três fases, custa R$ 900 e deve ser repetido a cada dois meses. Técnicos aplicam inseticida contra o piolho do pombo. Depois, recolhem ovos, pombos e ninhos. Por fim, usam um repelente para afastar novos animais.
A infecção
» O fungo causa alterações no trato respiratório e no sistema nervoso;
» Pode causar meningite e pneumonia, provoca convulsões, cegueira e surdez;
» A doença pode levar à morte;
» A contaminação ocorre pela aspiração do fungo;
» O fungo está nas fezes do pombo;
» A principal medida preventiva é o controle da população de pombos;
» Os principais sintomas são dores de cabeça, confusão mental e comprometimento pulmonar.
Memória
Mortes no Centro-Oeste
Nos últimos sete anos, ao menos duas pessoas morreram em Goiás e no Mato Grosso com criptococose. Em dezembro de 2011, uma adolescente de 17 anos morreu em consequência da doença em Anápolis (GO). Em 2013, um caso grave foi registrado na região metropolitana de Goiânia. O paciente se recuperou. Em março do ano passado, o funcionário dos Correios de Várzea Grande (MT) Celso Luis Gomes, 47 anos, morreu afetado pelo fungo.