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Estado de Minas

Preso médico suspeito de estuprar pelo menos oito pacientes

Traumatologista está sendo interrogado no Departamento de Prevenção e Repressão aos Crimes contra a Mulher, no Bairro do Recife


postado em 02/03/2018 14:28 / atualizado em 02/03/2018 14:32

(foto: Reprodução/Internet)
(foto: Reprodução/Internet)

Preso na manhã desta sexta-feira o médico traumatologista Kid Nélio Souza de Melo, de 35 anos, suspeito de ter estuprado pelo menos oito pacientes. Neste momento, ele está sendo interrogado no Departamento de Prevenção e Repressão aos Crimes contra a Mulher, no Bairro do Recife. A Polícia Civil de Pernambuco vai se pronunciar sobre o caso esta tarde, em entrevista coletiva marcada para as 15 h, no auditório da sede operacional, na Rua da Aurora.

Paralelamente ao inquérito policial por estupro, o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) abriu sindicância interna que pode culminar com a cassação do registro. O médico, formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, teve a primeira licença profissional registrada no Conselho Regional de Medicina daquele estado (Cremern). O registro foi transferido ao Cremepe, quando ele se mudou de Natal para o Recife. Após a primeira denúncia, ele foi imediatamente afastado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Imbiribeira.

Denúncias Uma vítima de 18 anos, que fez a primeira denúncia, procurou atendimento no setor de traumatologia da UPA da Imbiribeira por volta das 9h do dia 21 de fevereiro após sofrer um acidente em casa. O traumatologista solicitou exames e, quando ela retornou para entregá-los, ele a molestou no consultório. Em depoimento, a jovem contou à polícia que o médico pediu para ela abaixar o short, a apalpou, esfregou o corpo contra o dela e ejaculou. A coordenação da UPA afastou o profissional e informou que a direção tomará medidas cabíveis, além de se colocar à disposição da polícia para apoiar a apuração do caso.
 
Com a divulgação do caso, outras mulheres procuraram a polícia para denunciá-lo. Nesta quinta-feira, uma das mulheres foi fazer a denúncia acompanhada do marido. A vítima, que pediu para não ter a identidade revelada, contou que reconheceu o médico e chorou ao ver a foto dele no Diario de Pernambuco. A paciente de 29 anos disse que o abuso foi cometido em 2016, quando ela sofreu um acidente de trabalho na mão esquerda e foi atendida em um hospital privado no bairro do Espinheiro, na Zona Norte do Recife. Os demais casos denunciados até agora ocorreram na UPA da Imbiribeira, na Zona Sul.
 
Durante o depoimento, os momentos de constrangimento e revolta voltaram à tona com força. Ela ressaltou que só decidiu procurar a delegacia por causa do marido, que a viu chorando depois de olhar para a foto. “Se eu tivesse visto a imagem sozinha, eu teria guardado esse sentimento para ele não saber”, contou a vítima. 

Já na primeira consulta, a paciente achou estranho o comportamento do médico. “Ele ficava alisando a minha mão e passei a pedir para meu marido entrar junto comigo”, disse. O esposo dela não entendia, na ocasião, a razão do medo. “Eu brincava e perguntava ‘tá com medo de Kid Bengala’?, mas não tinha ideia da gravidade”, revelou o homem, que, em sua piada, referia-se a um ator de filmes pornôs.

Na época com 27 anos, a paciente passou por um procedimento cirúrgico e, ainda anestesiada, acordou com o médico tocando nas suas partes íntimas. “Ele fez coisas comigo dormindo. Por duas vezes acordei com ele passando a mão por baixo da minha roupa”, disse.

A vítima passou quase cinco horas em depoimento, ontem, na Delegacia da Mulher. “Eu confirmei que tinha sido abusada pelo mesmo médico da foto. Nunca quis denunciar por vergonha e medo de meu marido fazer alguma besteira, mas como esse médico fez a mesma coisa com outras mulheres, é bom que todas denunciem. Não sei o que a polícia está esperando para divulgar a foto. Se não fosse o Diario, eu não saberia que era a mesma pessoa”, afirmou. 

Enquanto a esposa dava depoimento, o marido aguardava no corredor, ao lado da porta. Inquieto e irritado, ele conversou com nossa equipe. “Eu me sinto impotente. A vontade era de matar esse médico, mas não vou estragar a minha vida e da minha família e sei que a polícia, mais cedo ou mais tarde, vai pegar ele. Eu soube que ele veio para Pernambuco há quatro anos. Quando a foto sair na televisão, vão aparecer mais vítimas com certeza”, contou.

Hospital - Por meio de nota oficial, o Hospital de Ortopedia, que chegou a ter o nome confundido com o da unidade de saúde particular onde o médico teria praticado o abuso, negou que o traumatologista tenha feito parte do quadro de funcionários. Confira o texto na íntegra: "Em função das últimas notícias veiculadas em toda mídia a respeito do médico Kid Nélio Souza de Melo, vimos esclarecer que o referido médico não faz e nunca fez parte do quadro de funcionários ou prestadores de serviço do Hospital de Ortopedia e Fraturas".
 
Retorno
Uma outra mulher procurou a delegacia, na bairro de Santo Amaro, na manhã desta quinta-feira. Ela já havia feito uma denúncia contra o mesmo médico, mas a ocorrência acabou registrada como atentado ao pudor. Com as recentes denúncias, ela voltou à delegacia para tentar modificar o teor. Não há confirmação de quando o médico será chamado para depor e esclarecer o envolvimento ou não nas denúncias apresentadas.

Erro médico - Além de estar sendo investigado pela Delegacia da Mulher, Kid Nelio, que atuava na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Imbiribeira e em alguns hospitais privados do Recife, também responde a dois processos na Justiça por erro médico. O primeiro, datado de maio de 2016, diz respeito a uma denúncia de um policial que passou por uma cirurgia no punho direito e precisou ter o procedimento refeito por outro profissional. O segundo processo, que chegou ao Poder Judiciário em outubro de 2016, tem como vítima uma mulher e tramita na 31ª Vara Cível da Capital. 

A Justiça ainda não se posicionou sobre as denúncias. Sobre os possíveis casos de erro médico, o Cremepe informou que, por sigilo ético profissional, não divulga detalhes do que foi apurado nem dos antecedentes do profissional investigado.
 


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