Brasília, 15 - Uma sessão solene na Câmara dos Deputados em homenagem à vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e ao motorista Anderson Gomes, assassinados na quarta-feira, 14, no Rio de Janeiro, se transformou em ato contra a intervenção federal no Estado e contra o Governo Michel Temer. A sessão foi presidida pelo presidente da Casa e pré-candidato à Presidência da República, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que foi hostilizado durante a cerimônia.
A homenagem começou com um cortejo pelo corredor principal da Câmara, onde militantes carregavam girassóis e uma faixa com frase: "Marielle presente, Anderson presente: Transformar o luto em luta."
Ao entrar no plenário, os militantes ergueram cartazes contra a intervenção militar e com fotos da vereadora.
Militantes de esquerda ocuparam todo o plenário e, durante os discursos, não pararam de gritar palavras de ordem pedindo o fim da Polícia Militar, o fim da intervenção na segurança pública no Rio de Janeiro, "Fora, Temer", "Fora, Maia", "Fora, Bolsonaro", "Fascistas não passarão" e "Golpistas". Líder da bancada da bala, o deputado Alberto Fraga (DEM-DF) também foi hostilizado no plenário.
"Cada uma de nós, sobretudo as mulheres, nos sentimos morrendo um pouco", disse a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP), que destacou o crescimento desse tipo de crime "no curso de um governo sem legitimidade". Na sequência, deputados de partidos de esquerda se revezaram ao microfone destacando a luta de Marielle a favor dos Direitos Humanos e sua origem de mulher pobre e negra. Também não faltaram nos discursos críticas à falta de planejamento na intervenção militar e cobranças por uma investigação célere.
A deputada Maria do Rosário (PT-RS) comparou a morte da vereadora aos assassinatos dos ambientalistas Dorothy Stang e Chico Mendes. "Basta aos que discursam propagando o ódio", pregou, sob os aplausos da plateia. "Os que puxam o gatilho são os que fomentam o ódio", completou.
Ao contrário do discurso do deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), que foi mal recebido pelos presentes, as declarações da petista Érika Kokay (PT-DF) foram aclamadas pelo plenário. "Essa bala foi apertada pelo Parlamento deste País", disse a deputada.
Visivelmente abalado, o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) também discursou.
Apesar de ter sido chamado de "golpista" em vários momentos, Maia deixou o evento minimizando as hostilidades. "Eu entendo que o importante é que o direito da manifestação está colocado, para a gente ouvir críticas e elogios com muito equilíbrio", respondeu. Durante os momentos mais tensos da cerimônia, Maia chegou a ser aconselhado por seguranças a abandonar o evento, mas ele fez questão de seguir no comando da sessão solene.
Maia saiu em defesa da intervenção e disse que a ação precisa de diagnóstico, de planejamento e da execução para ter sucesso. "É importante que o planejamento seja transparente e claro e que o governo federal entenda que há um sucateamento da estrutura da Polícia do Rio de Janeiro. Mas eu ainda estou confiante", afirmou.
O deputado disse que a agenda de segurança pública continuará na Casa porque é uma demanda de "80% da população". Maia disse que a flexibilização do Estatuto do Desarmamento ainda pode demorar para entrar na pauta.
Maia admitiu que a execução da vereadora pode radicalizar ainda mais os debates eleitorais, mas que espera que se caminhe para o equilíbrio nas discussões sobre as soluções para o problema de segurança pública no País.
(Daiene Cardoso).