Rio de Janeiro - O PSOL entrou no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) com representação contra a desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Na última sexta-feira (16), a magistrada acusou a vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada na última quarta-feira (14), de estar "engajada com bandidos", ter sido "eleita pelo Comando Vermelho" e ter descumprido "'compromissos' assumidos com seus apoiadores". O partido e familiares da parlamentar repudiam as acusações. A reportagem procurou a desembargadora, que não retornou o contato.
Leia Mais
Psol vai denunciar Fraga por divulgar informações falsas sobre MarielleDelegado é afastado do cargo por postagem contra vereadora Marielle FrancoDepois de assassinato de Marielle, PSOL é alvo de ataques na internetDesembargadora que difamou Marielle vai ser processada por pedir fuzilamento de Jean WyllysCorregedor abre investigação sobre desembargadora que atacou Marielle nas redesNa sexta-feira, a desembargadora escreveu que "a questão é que a tal Marielle não era apenas uma 'lutadora', ela estava engajada com bandidos! Foi eleita pelo Comando Vermelho (facção criminosa carioca) e descumpriu 'compromissos' assumidos com seus apoiadores. Ela, mais do que qualquer outra pessoa 'longe da favela' sabe como são cobradas as dívidas pelos grupos entre os quais ela transacionava. Até nós sabemos disso".
O texto continua: "A verdade é que jamais saberemos ao certo o que determinou a morte da vereadora, mas temos certeza de que seu comportamento, ditado por seu engajamento político, foi determinante para seu trágico fim. Qualquer outra coisa diversa é mimimi da esquerda tentando agregar valor a um cadáver tão comum quanto qualquer outro".
Freixo criticou quem tenta atingir a imagem de Marielle: "Esses imbecis, togados ou não, que tentam de alguma maneira matá-la de novo, não vão conseguir.
Após constatar o volume de calúnias de que Marielle passou a ser vítima, um grupo de advogadas começou na última quinta-feira (15) a rastrear as postagens mentirosas contra a vereadora. Todos os casos, com seus respectivos autores, serão encaminhados à Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), da Polícia Civil, ou à Justiça para pedido de retratação pública. Até domingo (18) já haviam sido recebidas mais de 2.000 denúncias. Elas podem ser enviadas para o e-mail contato@ejsadvogadas.com.br.
Manifestação
Milhares de pessoas participaram de caminhada em homenagem a Marielle no início da tarde deste domingo no complexo de favelas da Maré. Além de moradores, havia políticos como Freixo, o vereador Tarcísio Motta, o deputado estadual Flavio Serafini e o deputado federal Chico Alencar, todos do PSOL, e os deputados federais Benedita da Silva (PT), Jandira Feghali (PCdoB) e Alessandro Molon (PSB), todos eleitos pelo Rio. Também havia artistas, como Débora Bloch, Camila Pitanga, Marcelo Adnet e Bruna Linzmeyer.
"Quando a questão é ideológica, eu acho saudável haver debate. Quando uma vereadora é executada, nós temos que esclarecer, porque é um crime contra a democracia", afirmou Adnet.
Durante a manifestação, da qual participaram vários familiares de Marielle, mulheres da comunidade discursaram: "Pensam que o lugar de gente preta e pobre é no cemitério ou na cadeia, mas não vamos deixar. Vamos continuar na política", afirmou uma delas.
Na próxima terça-feira (20), a partir das 19h, haverá um ato ecumênico na Cinelândia (região central) em homenagem adiantada ao sétimo dia da morte de Marielle. O plano do PSOL e de entidades de direitos humanos é que o ato seja repetido nesse horário em outras cidades do País e do mundo. Antes, às 17h, manifestantes vão se reunir ao redor da igreja da Candelária, de onde partirão em passeata rumo à Cinelândia. O ato, convocado pela internet, já havia recebido a adesão virtual de mais de 40 mil pessoas até as 18h de domingo.
.