Uma publicação no Facebook com acusações contra a vereadora Marielle Franco – executada a tiros no Rio de Janeiro – continua a provocar manifestações de repúdio contra a autora do texto, a desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro Marília Castro Neves. Por meio de uma petição online, uma organização formada por ativistas elaborou um documento em que cobra do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) um posicionamento em relação ao comportamento da magistrada.
A postagem que causou revolta na internet foi feita pela desembargadora em forma de comentário na página de um advogado que defendia a trajetória de Marielle Franco. Com informações baseadas em fake news, a desembargadora afirmou que a vereadora teria sido eleita por membros da organização criminosa Comando Vermelho e que teria morrido por descumprir compromissos com seus apoiadores. Disse ainda que a comoção em relação à morte da vereadora não passa de "mimimi da esquerda tentando agregar valor a um cadáver tão comum como qualquer outro".
Logo que foi revelado, o post gerou revolta nas redes e a desembargadora recebeu uma enxurrada de críticas em sua página no Facebook. A organização Meu Rio, formada por ativistas, redigiu uma carta que foi disponibilizada em um site para que outras pessoas possam enviá-la a 15 membros do Conselho Nacional de Justiça. O documento afirma que as acusações da desembargadora são infundadas e lembra que o conteúdo já está sendo reproduzido na internet como se fosse verdade.
Segundo o site que hospeda o documento, até o início da noite deste domingo, a petição já teria sido enviada por mais de 40 mil pessoas aos membros no CNJ.
PSOL entra com representação contra desembargadora que acusou Marielle
O PSOL entrou no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) com representação contra a desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Na última sexta-feira (16), a magistrada acusou a vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada na última quarta-feira (14), de estar "engajada com bandidos", ter sido "eleita pelo Comando Vermelho" e ter descumprido "'compromissos' assumidos com seus apoiadores". O partido e familiares da parlamentar repudiam as acusações. A reportagem procurou a desembargadora, que não retornou o contato.
"Representamos contra a desembargadora no CNJ e esperamos que o Judiciário mostre que essa mulher é uma exceção nesse Poder, para o bem da democracia", afirmou o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL). Neste domingo, ele participou de ato em homenagem à vereadora no complexo de favelas da Maré, na zona norte do Rio, onde Marielle viveu.
Freixo criticou quem tenta atingir a imagem de Marielle: "Esses imbecis, togados ou não, que tentam de alguma maneira matá-la de novo, não vão conseguir. A Marielle está sofrendo um duplo homicídio. Não basta o covarde que apertou o gatilho, ainda tem covarde de plantão que não está preparado para julgar, mas para prejulgar, dizendo que a Marielle foi casada com bandido, com traficante, que sua filha é isso... é um nível de perversidade que a gente não está disposto a aturar. A Marielle não teve a filha, a Luyara, com um traficante. Mas e se fosse? Isso condena a Marielle a quê? O pai da Luyara é um rapaz que trabalha no Luta pela Paz, dentro da favela da Maré. A Marielle foi eleita com 7 mil votos (recebidos) no Jardim Botânico. Depois foi Barra (da Tijuca), Copacabana e Laranjeiras. Como assim dizer que Marielle foi eleita por Comando tal ou Comando tal?"
Mais publicações polêmicas
Depois que as acusações de Marília Castro Neves contra Marielle viralizaram, outros textos polêmicos postados por ela na mesma rede social circulam na internet. Em um deles, a desembargadora usa tom de deboche ao falar sobre uma notícia envolvendo um professor com síndrome de down. A desembargadora polêmica também também propôs paredão para Jean Willys. Na publicação, ela sugere fuzilar o político e menosprezar o deputado. “Embora não valha a bala que o mate e o pano que limpe a lambança, não escaparia do paredão”, diz ela.