Os nove professores e técnicos em apoio administrativo da Secretaria de Educação presos de forma temporária na última quarta-feira, na 3ª fase da Operação Panoptes, intitulada Magister, foram soltos e responderão em liberdade. Segundo as investigações da Polícia Civil, os servidores pagaram à Máfia dos Concursos pela aprovação no certame.
Cinco profissionais obtiveram liberação após confessarem as fraudes, com detalhes da atuação da organização criminosa. Os outros quatro deixaram a cadeia à 0h deste sábado. Ainda há um mandado de prisão temporária em aberto. A professora Paula Vítor Bueno é considerada foragida.
Apesar de soltos, os investigados não devem voltar às salas de aula. Eles ficarão afastados dos cargos até a conclusão dos Processos Administrativos Disciplinares (PADs) instaurados após a deflagração da Magister.
A 3ª fase da Panoptes é a primeira com enfoque nos candidatos que compraram aprovações. Eles responderão pelos crimes de organização criminosa e fraude em certame de interesse público.
Segundo os delegados responsáveis pelo caso, os servidores que fraudaram o exame da Secretaria de Educação, realizado em janeiro de 2017, “não tinham conhecimento básico da língua portuguesa”. A vaga de professor custava até R$ 120 mil. Já o posto de técnico em apoio administrativo valia cerca de R$ 40 mil. Metade do montante era pago antes do certame e o valor remanescente após a aprovação, no momento da posse.
De acordo com depoimentos, os investigados eram orientados a preencher poucos itens da prova objetiva e a escrever apenas as primeiras linhas da redação com “uma caneta especial, cuja tinta apaga quando aproximada ao fogo”. O ex-funcionário do Cebraspe Ricardo Silva, então, as retiraria da sala cofre e disponibilizaria aos concursandos para a correta resolução.
A Cecor deve indiciar os envolvidos. Após essa etapa, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) oferece a denúncia à Justiça. A Polícia Civil identificou fraudes em mais 12 certames, que serão alvos de novas etapas da Panoptes.
Fases iniciais
A Polícia Civil deflagrou a Operação Panoptes em agosto de 2017, com a prisão de Hélio e Bruno Ortiz, Rafael Rodrigues e Johann Gutemberg. Os três primeiros estão presos desde então. O último conseguiu liberação em outubro, após admitir parte das fraudes. Denunciados pelo MPDFT, eles respondem por organização criminosa, fraude à certame de interesse público e falsificação de documento público. O processo está prestes a ficar pronto para julgamento, dependendo apenas da apresentação das alegações finais da defesa.
A segunda fase, que chegou às ruas em outubro de 2017, teve oito alvos. Entre eles, o ex-funcionário do Cebraspe Ricardo Silva e seu braço-direito, Antônio Filho. Os dois estão presos e são réus por fraude à certame de interesse público e organização criminosa. Neste processo, ainda não houve audiências de instrução e julgamento.
O papel de cada um
Segundo as investigações da Deco, Helio e Bruno Ortiz comandavam a associação criminosa, escolhendo os aliciadores e os “pilotos” — especialistas que realizavam as provas e repassavam os gabaritos a concurseiros.
Rafael Rodrigues, por sua vez, era braço direito de Bruno Ortiz, e contribuía com a cooptação de concurseiros. Johann Gutemberg falsicava certificados e diplomas, caso fossem necessários para que o cliente assumisse o posto ou ganhar uma promoção.
As investigações tiveram início após uma denúncia sobre a fraude no certame do Corpo de Bombeiros. Com o aprofundamento das apurações, a Polícia Civil identificou os quatro modus operandi da organização criminosa: envio de respostas por celular ou ponto eletrônico, preenchimento das provas de forma posterior à aplicação do concurso e o emprego de identidade falsa para que uma pessoa se passasse pelo candidato.
Defesa
Ao Correio, Rubens dos Santos Pires, advogado de Hélio e Bruno Ortiz, afirmou que “não teve acesso ao conteúdo dos depoimentos, mas nega as alegações narradas”. “Hoje, a postura da Justiça é de quem já sentenciou os acusados, mesmo sem a conclusão do processo. Não há verdade nas alegações dos novos alvos. É muito fácil ser conduzido à delegacia e culpar quem está preso”, argumentou. A reportagem não conseguiu contato com as defesas de Antônio Alves e Ricardo Silva.
.