Rio, 14 - No dia em que o assassinato da vereadora do Rio Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, completou dois meses, os pais dela, Marinete e Francisco Silva, participaram de um ato em frente à Secretaria de Segurança Pública do Rio cobrando uma resposta do Estado para o caso.
A manifestação foi realizada na manhã desta segunda-feira, 14, pela Anistia Internacional. A organização lembrou que os crimes que vitimam defensores de direitos humanos no Brasil tradicionalmente caem no esquecimento e que os culpados ficam impunes.
"Não existe crime perfeito", disse Marinete. "O que ela fez de tão grave para ter uma morte assim? Qual ameaça fazia à sociedade? Que tipo de democracia é essa? Quatro tiros na cabeça é muito ódio. Ela nunca fez mal algum. Não dá para entender como alguém teria uma motivação iminente. É uma dor muito grande. A gente não se conforma e não vai ser calar. Não dá para parar agora.
Advogada de 66 anos, ela elogiou a condução das investigações pela polícia. "Estou confiante. Mas a gente está cobrando uma resposta. Precisamos de algo mais concreto. A gente não quer nenhum tipo de vingança, a família é católica.
A polícia investiga a participação de milicianos no caso, mas não vem divulgando os passos do inquérito. Só o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, dá declarações sobre o assunto. Uma testemunha (um ex-PM preso em Bangu por outros crimes) relatou que o crime foi encomendando pelo vereador Marcello Siciliano (PHS).
Marinete comentou a possibilidade de Siciliano (PHS) estar envolvido com os homicídios. "Meu coração de mãe pede que não seja ele. Seria mais dor. Uma traição. Alguém que via minha filha na Câmara... Eu conheci aquele rapaz lá. Da maneira que foi, é impossível não termos uma resposta."
A mãe da vereadora lembrou que Marielle não afrontava diretamente milícias com sua ação parlamentar. "Eles não teriam nenhum motivo.
Marinete contou que o domingo das mães (dia 13) foi de missa, na igreja Nossa Senhora de Inhaúma, perto de casa, e de recolhimento em casa, com a irmã de Marielle, Anielle, a filha dela, Luyara, de 19 anos, e a filha de Anielle, Mariah, de dois. "É um pedaço de mim que se foi. Eu criei aquela menina com muita luta. Para a Luyara foi ainda mais difícil, ela é uma criança grande."
A mãe de Marielle vem recebendo apoio de outras mães que perderam filhos de forma violenta; muitas foram confortadas pela vereadora na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa - ela coordenava o grupo antes de se eleger, em 2016. "Ela era um ser humano muito fraterno com as pessoas. Conversei com mães de policiais, mães de Acari, de Realengo, de Manguinhos. É muito gratificante saber como ela contribuiu. Só quem fala mal da minha filha é quem não a conheceu".
O pai de Marielle não consegue supor qual seria a motivação dos assassinos. "São 60 dias sem respostas: quem matou minha filha? Por que matou? Uma mulher desarmada, acompanhada de outra mulher e de um motorista, perseguida por quatro homens armados", disse.
Ele afirmou que sua revolta crescerá caso se comprove que um vereador foi o mandante.
Durante o ato, em frente à Central do Brasil, integrantes da Anistia Internacional seguraram cartazes com os dizeres "Quem matou Marielle?" e usaram máscaras com o rosto da vereadora. A coordenadora de pesquisa da Anistia, Renata Neder, explicou que o protesto não foi convocado para que a Secretaria de Estado de Segurança (Seseg) seja pressionada a encerrar as investigações, e sim para que se posicione publicamente sobre o caso. A reportagem pediu um posicionamento nesta segunda-feira à Seseg, mas não obteve resposta.
"A investigação tem que ser bem feita. Se precisam de mais tempo, que levem mais tempo. Se está sob sigilo, não devem vazar informações", afirmou Renata. "Não adianta só identificar quem atirou, e sim quem ordenou e por que motivo. A gente não pede esclarecimentos sobre as investigações, mas um compromisso das autoridades de que esse caso é prioridade e que o devido processo legal será seguido. Historicamente, os assassinatos de defensores de direitos humanos no Brasil não são investigados, ou então levam anos até o julgamento".
(Roberta Pennafort).