São Paulo, 15 - Uma vida campestre perto do centro paulistano é o que propôs a Companhia City ao criar o loteamento do Jardim América nos anos 1910, na zona oeste de São Paulo. Para assegurar a continuidade do conceito "subúrbio jardim", o contrato previa regras de construção (como medidas de recuos frontais e laterais dos imóveis, por exemplo), que permanecem. Por sua importância histórica, ele é o que mais tem restrições dentro do tombamento estadual do desenho urbano dos Jardins, de 1986.
Essas determinações foram encampadas no tombamento e na Lei de Zoneamento, o que transforma em uma "questão jurídica" possíveis alterações na região, como aponta o professor de Arquitetura e Urbanismo José Geraldo Simões Junior, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Questão semelhante abrange os demais bairros desse tombamento.
Como lembra o professor, o projeto do Jardim América data dos anos 1910, com as primeiras casas entregues naquela década e na seguinte. O principal público-alvo eram profissionais liberais, como advogados e engenheiros, pois as elites, que chegaram à área décadas depois, até então viviam na Avenida Paulista e em Higienópolis, mais próximas do centro. "Tinha uma boa infraestrutura, com bonde e rede elétrica", diz.
O projeto do bairro era sofisticado para a época e inspirou loteamentos de toda a cidade, até de outros "Jardins", como o Europa, aponta Simões Junior. Dentre as características estão ruas curvas, com rotatórias e voltadas para o trânsito local, e os "bolsões residenciais", com casas unifamiliares no meio de grandes lotes, de 500 a 1,2 mil metros quadrados, além de muita área verde.
Com o crescimento do entorno, especialmente da Avenida Faria Lima, o bairro começou a atrair a especulação imobiliária. Isso preocupou parte dos moradores que, em 1985, solicitou o tombamento dos Jardins, que teve a área modificada duas vezes até ser aprovada a resolução atual, de 1986.
Para Simões Junior, houve "muita mudança" no bairro em cem anos.
Como lembra o professor, o tombamento dos Jardins não envolve edificações em específico, mas o "desenho urbano" do polígono delimitado, como altura e tamanho de lotes. Isto é, o proprietário pode derrubar e construir uma nova casa, desde que obedeça às regras. A exceção é para imóveis tombados em outras resoluções, como a sede da Sociedade Harmonia de Tênis, do Jardim Europa, protegida desde 1992.
Por isso, uma possível mudança nas características poderia mudar o conceito de "cidade jardim". "Tudo depende de um bom projeto, mas a tendência histórica é de se fazer maus projetos para ter mais lucro." As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.
(Priscila Mengue).