A Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso prendeu a avó da indígena recém-nascida enterrada viva em Canarana, a 823 km a leste de Cuiabá, após um mandado judicial de prisão temporária. Tapoalu Kamayura vai responder por tentativa de homicídio. Segundo as investigações, a avó sabia da gravidez da filha de 15 anos e, durante todo período gestacional, fez chás abortivos para tentar interromper a gravidez.
A adolescente teria planejado, com a ajuda da avó e bisavó da recém-nascida, Kutsamin Kamayura, o destino do bebê logo após o parto. A bisavó da criança também foi detida, presa em flagrante. Segundo a polícia, o crime teria ocorrido porque ambas não concordavam com o fato de a mãe da criança ser adolescente e solteira, e ter um filho de um homem que já estava comprometido com outra mulher.
Ainda de acordo com a polícia, a prisão temporária é de 30 dias, mas há possibilidade de prorrogação por igual período. Tapoalu Kamayura foi encaminhada para a Cadeia Pública Feminina, no município de Nova Xavantina, e Kutsamin Kamayura, presa em flagrante menos de 24 horas após o crime, em 5 de junho, também está detida e aguarda julgamento.
A família da menina foi interrogada com a participação de um antropólogo, de um psicólogo e de representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai). Um dos objetivos era esclarecer se "razões antropológicas" motivaram a ação.
Em estado grave
Segundo a Santa Casa de Cuiabá, o estado da recém-nascida enterrada viva é grave, mas estável. Ela segue entubada e sedada, e apresenta um quadro de insuficiência renal aguda e distúrbio de coagulação. A bebê está fazendo hemodiálise e já recebeu transfusão de sangue.
Relembre
A criança indígena foi enterrada vivo pela bisavó, em Canarana (MT). Da etnia Tamayura, a menina teria ficado quase sete horas sob a terra. Segundo as investigações, o crime aconteceu após a mãe adolescente ter dado à luz no banheiro sozinha, depois de sentir contrações fortes. De acordo com relato da bisavó, a criança teria batido a cabeça no vaso sanitário, o que causou um sangramento e fez com que ela pensasse que a criança estivesse morta.
Segundo ela, a criança não chorou. Foi aí que ela cortou o cordão umbilical e resolveu enterrar a criança em seu quintal, segundo costume de sua comunidade, em uma residência na Rua Paraná, sem acionar as autoridades. Contudo, a mãe teve hemorragia durante toda a tarde da última terça-feira (5/6) e precisou de atendimento médico, foi quando a ocorrência foi divulgada.
Quando os policiais começaram a escavar o local onde a criança havia sido enterrada, aos fundos da residência, ouviram o choro do bebê e constataram que a criança ainda estava viva. O bebê foi socorrido, encaminhado para socorro médico imediato e segue internado.
Desespero
Para o major João Paulo Bezerra do Nascimento, comandante da 5º Companhia, "não dá para descrever" a sensação ao começar cavar e ouvir o choro da criança. "Deu um desespero para cavar ainda mais depressa, com as mãos, com cuidado. A bebezinha é tão pequenina, coube nas duas mãos. Tantas horas depois de enterrada, é um milagre", relatou. Veja o resgate:
Segundo a PM, o fato de o pai não assumir a criança e a mãe ter apenas 15 anos aumentam as suspeitas de que a família tenham tentado matar a recém-nascida. O pai do bebê também é suspeito. Ele não teria assumido a paternidade e já estaria morando em outra aldeia.