São Paulo, 16 - Nos Estados Unidos, um cientista brasileiro combinou um conjunto de avançadas tecnologias para produzir em laboratório minicérebros com o material genético do homem de Neanderthal. A pesquisa inédita tem o objetivo de compreender as distinções entre os cérebros dos humanos modernos e de seus mais próximos parentes extintos, a fim de tentar compreender como surgiu a capacidade cognitiva que torna o cérebro do Homo sapiens tão especial.
O autor do estudo, que foi destaque em uma reportagem publicada na revista Science, é o geneticista Alysson Muotri, professor da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórina em San Diego (Estados Unidos) e diretor do programa de células-tronco da universidade. Os resultados, ainda não publicados, foram apresentados em um congresso na Califórnia.
"O objetivo final desses estudos é entender o que nos torna humanos, isto é, quais são as alterações genéticas que, ao longo da evolução, tornaram o cérebro humano diferente de qualquer outra espécie", disse Muotri ao jornal
O Estado de S. Paulo
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O trabalho envolveu ferramentas de três áreas que vêm revolucionando a ciência: os estudos sobre DNA antigo, a tecnologia "Crisper" de edição do genoma e os organóides celulares - ou minicérebros - que são estruturas construídas a partir de células-tronco para simular o desenvolvimento cerebral.
Em comparação aos minicérebros feitos com células humanas, os que foram criados a partir do DNA Neanderthal - e que simulam aspectos do desenvolvimento do córtex cerebral da espécie extinta- apresentaram um formato distinto e diferenças em suas redes neurais. "Algumas dessas diferenças podem ter influenciado a capacidade dos Neanderthais para a socialização - que é uma das características especiais do cérebro humano", afirmou Muotri.
O DNA neanderthal foi extraído pela primeira vez em 2010 e o genoma da espécie foi sequenciado. Segundo Muotri, certas regiões do genoma neanderthal ainda existem na população humana, enquanto outras partes foram eliminadas por seleção natural. Usando ferramentas genômicas, o pesquisadore selecionou genes que só existiam nos neanderthais e que estavam relacionados ao desenvolvimento dos neurônios. "Decidimos então criar minicérebros com um dos genes neanderthais para avaliar a importância dessas diferenças genéticas.
"A equipe do cientista reprogramou células da pele humana para que elas se convertessem em células-tronco, que foram usadas para gerar os minicérebros.
"Os neurônios que derivam dessas células apresentam uma redução em sua atividade. É muito provável que os neurônios dos neanderthais fizessem um número de sinapses menor do que o observado nos humanos modernos", disse. Segundo ele, as conclusões sobre como seria o cérebro neanderthal ainda são especulativas, mas o estudo mostra que as ferramentas podem ser usadas para avançar nessa direção. "Gosto de chamar esses estudos de neuroarqueologia. Como os arqueólogos, não vamos conseguir reconstruir o passado, mas vamos reunindo evidências que vão aprimorando as teorias." As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.
(Fábio de Castro).