Pelo espaço livre entre os muros da frente dos escombros do que restou do prédio do Museu Nacional era possível observar hoje (22) o canteiro de obras e a intensa movimentação de operários para a colocação das vigas metálicas que fazem parte das primeiras intervenções na estrutura atingida pelo incêndio do dia 2. A ação envolve o reforço estrutural de paredes e áreas com risco de desabamento, para posterior instalação da cobertura do casarão imperial. Do lado de fora, no sentido oposto, o Museu Nacional promoveu neste sábado o festival Museu Nacional Vive, que reuniu centenas de pessoas na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, na zona norte do Rio. Foi colocada à mostra parte do acervo preservado do museu, de aproximadamente dois milhões de peças. O evento vai até esse domingo (23) e encerra a semana da 12ª Primavera de Museus.
Entre as atrações, as crianças puderam ver um fóssil de pterossauro de aproximadamente 110 milhões de anos, espécies diversas de insetos e animais empalhados, como aves, sapos, tartarugas e insetos.
Foi possível também apreciar, e até tocar, uma réplica 3D do crânio de Luzia, o fóssil humano mais antigo das Américas com seus cerca de 11 mil anos e que, se não foi totalmente destruído durante o incêndio, hipótese muito pouco provável, ainda se encontra sobre os escombros.
“O que temos aqui é uma impressão 3D da tomografia da Lúzia. Ou seja, em algum momento lá atrás ela foi fotografada, e esta fotografia gerou uma imagem que resultou recente nesta imagem 3D que hoje a gente mostra aqui neste evento”, explicou Murilo Bastos, do Departamento de Antropologia Biológica do museu.
Enquanto na parte interna do prédio funcionários da empresa Concrejato instalavam as estruturas que permitirão a entrada dos estudiosos que darão a real dimensão do quanto o incêndio devastou, na parte externa, professores, estudantes e colaboradores do Museu Nacional e da Universidade Federal do Rio de Janeiro implementavam atividades diversas e apresentavam parte do que restou do acervo. De uma maneira geral, o que os envolvidos no evento procuravam mostrar era que, apesar da violência danosa do fogo que destruiu parte dos 200 anos de história do Museu Nacional, o trabalho da instituição não pode parar.
Algumas cobras, como a coral verdadeira, a jararaca e a cascavel, podiam ser vistas e algumas até tocadas pelas crianças. Em uma das barracas, estavam expostas em um varal fotografias com registros de todos os pesquisadores, estagiários e professores que passaram pelo museu.
“Este é o primeiro evento oficial que estamos realizando deste a tragédia que consumiu a maior parte do nosso acervo. Ele é extremamente importante para mostrar para a sociedade que o Museu Nacional vive. Que nós não perdemos a nossa principal riqueza que é a capacidade de gerar conhecimento. O museu vive, o museu tem acervo, e nós vamos continuar a realizar o nosso trabalho”, disse o diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner.
A obra
O início das obras de emergência do Museu Nacional foi possível a partir de assinatura na manhã de ontem (21) de contrato entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a empresa Concrejato Serviços Técnicos de Engenharia.
A assinatura foi efetivada após a liberação de R$ 8,9 milhões pelo Ministério da Educação. Na tarde da última quinta-feira, Henrique Sartori, secretário executivo do MEC, esteve no Rio de Janeiro para acompanhar o processo de perto. As primeiras intervenções envolvem o reforço estrutural de paredes e áreas com risco de desabamento. Posteriormente, será instalada a cobertura do edifício.
Ele esteve no Rio para ajustar um grupo de trabalho que o MEC criou para a reestruturação e reconstrução do Museu Nacional e também para conhecer as demandas específicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Na oportunidade, Sartori disse que uma equipe do Ministério da Educação vai acompanhar os principais problemas estruturais do museu. “Esse primeiro aporte será para que a empresa contratada possa fazer as escoras, a cobertura e também os contêineres que vão dar o apoio nesta fase de triagem do acervo que se encontra lá ainda [nos escombros].”
Em uma etapa seguinte, o Ministério da Educação deverá destinar aos projetos no interior do palácio cerca de R$ 5 milhões. Sobre o cronograma de execução das obras de recuperação do Museu Nacional, Alexander Kellner disse que já nesta segunda-feira (24) haverá a primeira grande reunião de trabalho.
“Nesta reunião, os agentes que participam do processo discutirão os próximos passos dos trabalhos de recuperação do Museu Nacional e o cronograma de execução da obra. Nós temos pressa”, destacou.