As agressões verbais e físicas se sucediam, relata a polícia. A ideia de se vingar do bullying cresceu, com inspiração em vídeos de atentados nos EUA e no Brasil, como em Realengo. Na sexta-feira, 29, um estudante de 15 anos do ensino médio pegou uma arma e atirou nos colegas em uma escola estadual da pacata cidade de Medianeira, a 60 quilômetros de Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná. Tinha uma lista para livrar os amigos - no fim, dois acabaram baleados.
O atentado aconteceu no Colégio Estadual João Manoel Mondrone. "Era um dia de aula normal, os alunos foram para a primeira aula, mas os dois envolvidos (o atirador e um colega que o acompanhava) não entraram na sala em um primeiro momento.
A pedagoga os chamou para ver o que tinha acontecido. E depois chamou mais três ou quatro meninos da sala para conversar, ver o que tinha acontecido", relatou o diretor do colégio, Darlan Chiamulera. "Ao saírem dali, eles foram até a sala de aula e um deles começou a atirar", completa, destacando que não havia relatos que desabonassem a conduta escolar dos jovens, que foram detidos em Medianeira e aguardam decisão para onde serão encaminhados.
Alunos da mesma sala do atirador, porém, ligaram o caso ao bullying.
Os colegas o chamavam de "Zé Patrola" e "gordo". "A motivação foi o bullying. A ideia (colocada em prática na sexta) começou a florescer e foram buscar vídeos e tutoriais de atentados que ocorrem nos Estados Unidos e também aqui no Brasil, como em Realengo e Goiás. Era só uma ideia no início. Como o bullying não cessava, eles chegaram ao extremo", detalha o delegado Denis Merino.
A ação
À tarde, a polícia tentou checar a veracidade de um vídeo supostamente gravado pelo atirador. Feito em uma estrada rural, sem mostrar o rosto, ele anuncia: "Tô muito ansioso, passando mal.
Segundo testemunhas, antes de atirar nos estudantes, o jovem de 15 anos pediu para que 5 do grupo dos 35 se retirassem, pois tinha alvos definidos - 11 seriam supostamente citados no vídeo - e não queria ferir amigos. Na sequência disparou, atingindo dois colegas.
O diretor do colégio relatou momentos de terror. "Não estamos preparados para enfrentar uma situação dessas. Na hora eu fui atrás dos alunos, seguindo-os, porque eles continuaram andando na escola, armados.
Vítimas
O jovem ferido com mais gravidade não era um dos alvos. "Meu filho ouviu o nome dele ser chamado (para sair da sala), mas estava compenetrado nos estudos e não deu importância. Depois, ele foi alvejado e não viu mais nada. Agora está com uma bala alojada na segunda vértebra e com o risco de perder a mobilidade total ou parcial das pernas", diz o marceneiro Eder Samuel Facundo.
O jovem hospitalizado disse ao pai que o outro baleado, na perna (sem gravidade), também foi confundido pelo atirador, por possuir um irmão gêmeo.
Facundo diz que o filho nunca praticou bullying. "O B. não é desse espírito, nem de longe é de querer zoar os outros", afirmou. "Ele saiu para estudar." Seu filho foi atendido no Hospital Municipal Padre Germano Lauck, em Foz do Iguaçu, e transferido no fim da tarde para o Hospital do Trabalhador, em Curitiba. "Mesmo com medicamento a dor continua forte." A outra vítima foi atendida na Hospital e Maternidade Nossa Senhora da Luz, em Medianeira, e já foi liberada.