Mosquitos transmissores da leishmaniose preferem maconha a qualquer outra planta na hora de se alimentar, revela estudo publicado pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. Conduzida no Brasil, Israel, Palestina, Etiópia e Cazaquistão, a pesquisa mostra que a predileção foi unânime entre todas as populações do inseto analisadas. O trabalho mostrou ainda que, uma vez encontrada planta, o consumo é em grandes proporções.
Mais do que uma curiosidade sobre hábitos desses mosquitos, a constatação representa um trunfo para se traçar estratégias de combate a essa população. "A partir desse dado podemos pensar em criar armadilhas. Outra medida possível seria colocar atrativos em áreas longes da residências, justamente para evitar a presença do mosquito nas casas", afirmou o pesquisador do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs), da Fundação Oswaldo Cruz da Bahia, Artur Queiroz, responsável pelo estudo no País.
Leishmaniose é uma doença grave. Não há vacina para prevenir a infecção, que ocorre com a picada de mosquito contaminado. O tratamento disponível controla, mas não é capaz de eliminar o parasita. Pacientes com a doença têm febre de longa duração, aumento do fígado e baço, perda de peso, fraqueza, redução da força muscular e anemia. Quando não tratada, a leishmaniose pode levar à morte em 90% dos casos.
No Brasil, os insetos analisados na pesquisa foram coletados em Camaçari, na Bahia. "Identificamos vestígios da planta da maconha tanto na área rural quanto urbana", conta Queiroz. Uma das possibilidades é de que, na área urbana, mosquitos tenham se alimentado de plantas cultivadas em água.
As coletas foram feitas também em cinco pontos do Oriente Médio e África. "A preferência pela folha da maconha ocorreu em todos locais", conta o pesquisador brasileiro. Mesmo onde havia uma oferta abundante de outros vegetais . "Não sabemos ainda a razão para tal preferência", afirma Queiroz, biomédico, doutor em Bioinformática e responsável pela pesquisa no Brasil.
Para fazer o estudo, pesquisadores analisaram o sistema digestivo dos insetos. Os mosquitos com maior concentração da erva no organismo foram encontrados na região de Tubas, território sobre autoridade da Palestina. Além de Tubas e Camaçari, as regiões observadas no estudo são o Deserto da Judeia, na região da Cisjordânia, a cidade de Bura no Cazaquistão, a região de Sde Eliyahu em Israel e de Sheraro, na Etiópia.
No estudo, foram analisados tanto mosquitos infectados quanto não infectados. Fêmeas de insetos transmissores de leishmaniose se alimentam tanto de sangue quanto de seiva. Os machos, por sua vez, alimentam-se exclusivamente de seiva.
O protozoário que provoca leishmaniose se hospeda em vários mosquitos, conhecidos no Brasil como mosquito-palha. Existem dois tipos de leishmaniose: a tegumentar (com manifestações na pele) e a visceral, mais grave. Entre 2010 e 2014 foram registrados cerca de 17 mil novos casos de Leishmania Visceral e mais de 1.100 óbitos, já os casos de tegumentar são estimados em 22 mil por ano, segundo o Ministério da Saúde.
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