Um dos advogados de João de Deus, Alberto Zacharias Toron garantiu ao Correio que o médium, acusado de abusar sexualmente mais de 300 mulheres durante tratamentos espirituais, vai se entregar à polícia. O defensor, no entanto, não especificou quando ou onde. O representante acrescentou que entrará com um pedido de habeas corpus contra o mandado de prisão preventiva do médium, decretado nesta sexta-feira (14/12) pela Justiça de Goiás.
Desde a última quarta-feira, quando João de Deus apareceu no centro espírita onde trabalhava, em Abadiânia, cidade goiana no Entorno do Distrito Federal, não há notícias sobre o paradeiro do líder espiritual. Nem mesmo pessoas próximas sabem dizer onde ele está.
Na noite de quinta-feira, pessoas próximas diziam que ele estava em uma chácara nos arredores de Anápolis (GO). A polícia, no entanto, não o encontrou em nenhum dos lugares que ele costuma frequentar — além da casa e do centro, em Abadiânia, os policiais fizeram buscas na chácara e em um apartamento, em Goiânia.
A prisão preventiva foi decretada pelo juiz Fernando Chacha, de Alexânia, cidade vizinha a Abadiânia. Ele acolheu dois pedidos de prisão: um da Polícia Civil e outro do Ministério Público de Goiás. Antes da decisão, o advogado do médium esteve em Alexânia para apresentar a versão dele, e teria sugerido que ele fosse filmado e vigiado enquanto fazia as consultas no centro. O juiz não aceitou as propostas.
Abusos
Desde a última sexta-feira (7/12), João tem sido alvo uma série de denúncias de violência sexual. Os cinco promotores do MPGO já identificaram 330 mulheres que acusam o médium de abuso sexual. Em média, a força-tarefa tem recebido 100 denúncias por dia, desde segunda-feira (10/12).
Ao todo, mulheres de 12 unidades da Federação — Goiás, Distrito Federal, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Pernambuco, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Pará e Santa Catarina — já relataram casos. A maioria das possíveis vítimas fez contato por meio do canal criado exclusivamente para essa finalidade, o e-mail denuncias@mpgo.mp.br.
Na quarta-feira, João fez sua primeira e, até o momento, única apariação pública após as denúncias. Às 9h40, o médium chegou a Abadiânia para atendimentos na Casa Dom Inácio de Loyola. Minutos depois, ele deixou o local amparado por advogados, funcionários e pessoas que se identificaram como médicos, segundo os quais ele passou mal durante o início dos trabalhos espirituais.
Dentro da casa, o médium goiano disse que está à disposição da Justiça brasileira. "Irmãos e minhas queridas irmãs, agradeço a Deus por estar aqui. Quero cumprir a lei brasileira. Estou nas mãos da Justiça. O João de Deus ainda está vivo", declarou.
Repórteres e cinegrafistas que aguardavam João de Deus no local foram agredidos com socos e até mordidas. Alguns fiéis ameaçaram os profissionais de imprensa. "Vocês terão câncer e voltarão todos aqui para se curar. Você se arrependerão do que estão fazendo", gritava uma mulher. "Lamentamos o que aconteceu, não é de nosso costume, mas foi uma situação que saiu do controle", comentou Cláudio Prujar, voluntário da Casa Dom Inácio que ficou responsável por atender a imprensa.
*Estagiário sob supervisão de Humberto Rezende