Abadiânia (GO) — Dividido pela rodovia BR-060, ligação entre Brasília e Goiânia, o município goiano de Abadiânia tem também estilo de vida com duas facetas. Ambas foram sacudidas por um escândalo sem precedentes. Mais que uma crença religiosa, o trabalho realizado pelo médium João de Deus, acusado de abuso sexual por mais de 300 mulheres, é meio de sustento para uma população de quase 20 mil pessoas. Direta ou indiretamente, todas estão ligadas ao funcionamento da Casa Dom Inácio de Loyola. Entre 3 mil e 5 mil fiéis passavam pelo local semanalmente — 25% deles vêm do exterior.
Há regras que, para um visitante desatento, passam despercebidas. Um dos exemplos é a “não recomendação” de venda de bebidas alcoólicas nos arredores do centro espírita. A comercialização foi interrompida, segundo lojistas, a pedido de João de Deus, após problemas com turistas estrangeiros que se embriagavam durante a noite e atrapalhavam os rituais espirituais. “Eles tomavam pinga e saíam dançando pelas ruas. Já teve gente amanhecendo na calçada”, conta o gerente de um estabelecimento que parou de vender o produto há cinco anos.