O que será da Casa Dom Inácio de Loyola sem João Teixeira de Faria, o João de Deus? Além das cirurgias espirituais, o centro promove correntes de oração e banhos de cristal, realizados por funcionários ligados ao líder espiritual. Para seguidores, as "entidades" continuam se manifestando, mesmo sem a "presença física" de João de Deus. Por isso, o espaço segue aberto, mas com cerca de um terço do movimento normal.
O médium, acusado de cometer uma série de abusos sexuais, se entregou à polícia neste domingo, dia 16. João de Deus prestou depoimento e foi levado para o Complexo Penitenciário de Aparecida de Goiânia (GO).
A perspectiva é de que fiéis sigam viajando para Abadiânia, mas em uma proporção menor e talvez mais regional do que a atual, estima André Ricardo de Souza, professor de Sociologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). "Talvez dê para comparar com o que ocorreu em Uberaba depois que Chico Xavier morreu (em 2002). Outros psicógrafos surgiram e atraem pessoas. Tem fluxo, mas é bem menor", diz ele, que também é coordenador do Núcleo de Estudos de Religião, Economia e Política da universidade.
O professor ressalta que João de Deus mistura elementos do espiritismo com o catolicismo, de modo a exibir imagens de santos e ter um deles, católico, como a principal entidade que incorpora (Santo Inácio de Loyola, que dá nome à casa). "Há muitos casos desse tipo hoje, independentemente da identificação com o espiritismo kardecista, que transita entre religiões."
Ele lembra que um dos primeiros grandes expoentes dessa trajetória foi José Arigó nos anos 1950 e 1960, que chamou atenção internacional e atendeu até a filhas do presidente Juscelino Kubitschek.
Franca
Na cidade de Franca (interior de SP), um dos principais expoentes é João Berbel, do Instituto Medicina do Além (Ima), que oferece atendimentos, tratamentos e medicamentos gratuitamente. Ele ainda realiza cirurgias espirituais, mas deixou de fazer incisões nos anos 1990, quando a prática passou a ser mais criticada. Souza afirma que a prática é "controversa". "É bem menos usado, até porque é algo problemático. Se, por um lado, as pessoas ficam curiosas, é um espetáculo, por outro, gera receio, medo", aponta.
No fim da vida, Chico Xavier teria deixado de se submeter a uma cirurgia do tipo, mesmo após recomendação.
Permanência
Uma jovem de 23 anos que afirma ter sido abusada por João de Deus afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo ser contrária ao fechamento da casa. Ela frequenta o local há 10 anos e diz ter sido abusada em 2015.
"Esse trabalho ajudou muita gente, curou várias pessoas, porque quem curava eram as entidades. Todos esses espíritos de luz, e não ele. Ele servia de instrumento", diz.