Para o novo secretário da Educação do Estado de São Paulo, Rossieli Soares, discussões em torno de projetos como o Escola sem Partido só atrapalham. "A única ideologia que deve nos interessar é a ideologia da aprendizagem, essa tem de ser a nossa obsessão", disse ao jornal O Estado de S. Paulo o ex-ministro, no governo de Michel Temer.
A posição forte, nada política, é contrária ao que disse o governador João Doria (PSDB) ao anunciá-lo para o cargo. O chefe afirmou ser favorável à bandeira do presidente Jair Bolsonaro, que quer combater uma suposta doutrinação de professores nas escolas.
Na semana passada, ele se envolveu na polêmica dos livros didáticos ao negar qualquer responsabilidade nas mudanças publicadas no dia 2, no Diário Oficial. Segundo revelou o Estado, o edital havia sido alterado e passava a permitir erros e publicidade e a não exigir referências bibliográficas. O governo Bolsonaro culpou a gestão Temer.
Como vai lidar com a questão do Escola sem Partido? O governador disse que defende o projeto. Vocês já conversaram novamente sobre isso?
Não voltamos a conversar sobre isso, nosso foco tem sido a discussão da aprendizagem. A gente perde tempo demais em coisas que não são essenciais. Vou perder meu tempo com ideologia disso e daquilo quando só 5% dos jovens saem do ensino médio com aprendizado suficiente? A única ideologia que deve nos interessar é a ideologia da aprendizagem, essa tem de ser a nossa obsessão. Vamos discutir o que interessa: os jovens e as crianças não estão aprendendo adequadamente dentro das nossas escolas. Se algum professor abusar na sala para fazer campanha para um lado ou outro, tem procedimento para isso. A escola em primeiro lugar tem de ser capaz de resolver seus problemas, seus conflitos. Se não, há mecanismos. Se a criança não aprender Português, não vai saber interpretar, usar linguagem, e vai ser refém de qualquer tipo de ideologização. Quando garanto a aprendizagem, estou buscando dar o caminho para que a criança, o jovem, tenha cada vez mais independência para escolher o rumo que quer.
Muito se fala que professores têm que ser denunciados, que fazem doutrinação.
A gente precisa investir muito na formação de professores. Temos 82% dos professores no Brasil oriundos de universidades privadas, então não é nem uma questão ideológica da universidade pública. A gente precisa apoiar o futuro professor para ele chegar mais preparado na sala de aula. A gente precisa apoiá-lo e não colocar a culpa nele. É culpa do que nós, sistema, estamos fazendo: não temos metodologia suficiente, prática. O professor chega na sala de aula e o que ele teve de suporte para apoiá-lo?
O senhor acabou de finalizar no MEC a Base de Formação Docente, que prevê residência para professores iniciantes. Vai fazer isso em São Paulo?
Sim, a gente vai discutir com as universidades e o governo. Precisamos investir no futuro profissional e nos atuais. Por que você, mãe, pai, não aceita ir ao médico que teve só teoria? Qual prejuízo fazemos à educação ao não dar oportunidade ao professor para ele ficar ao lado de um profissional experiente, aprender os procedimentos e facilitar a aprendizagem?
Hoje existe o estágio, mas ele é burlado, ninguém faz direito.
Em tese, o estágio existe há décadas no Brasil, mas qual o efeito? A pessoa dá uma assinatura lá e libera. Residência pedagógica é dar uma turma para o futuro professor pilotar quando ele está nos últimos semestres de uma licenciatura. O cara tem de estar dentro da escola: assistir a uma aula, ver como o aluno reage, como os outros colegas com experiência reagem.
Somos o Estado mais rico, mas nas últimas avaliações nacionais pioramos e estamos atrás de muitos Estados.
Vamos melhorar em quatro anos. Como secretário de Educação de São Paulo, não tenho direito de não ter a ambição de colocar o Estado sempre no primeiro lugar. Precisa jogar às claras e colocar foco na aprendizagem, continuar com o que é bom e melhorar outras coisas. Temos um processo de política contínua, mas não tivemos continuidade na educação. No final das contas, o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) é 3,8. Temos de ter obsessão em dar qualidade ao que estamos fazendo com o professor. Há 19 mil com carga horária de 12 horas - é quase institucionalizar o bico. O ideal é fixar o professor na escola, muitos deles estão em três, quatro, e olhar para salário, carreira, formação. Não há possibilidade de a gente não focar no que é essencial, que é aprendizagem. Todo o resto só atrapalha.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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