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Estado de Minas

Saiba quem é a funcionária do aeroporto de Brasília que devolveu carteira com dólares

Faxineira encontrou uma carteira com "uma boa quantidade" de dólares, há uma semana, e, na quinta-feira, devolveu tudo à dona. Há quase 14 anos, no mesmo terminal, um zelador entregou maleta com US$ 10 mil


postado em 19/01/2019 17:44 / atualizado em 19/01/2019 17:51

Com duas crianças para criar e muitas contas a pagar, Genycleia dos Santos não quis ver quanto tinha na carteira jogada no embarque internacional (foto: Aeroporto de Brasília/Divulgação)
Com duas crianças para criar e muitas contas a pagar, Genycleia dos Santos não quis ver quanto tinha na carteira jogada no embarque internacional (foto: Aeroporto de Brasília/Divulgação)

A história, com final feliz, se repete no aeroporto de Brasília. Uma faxineira do terminal encontrou, na semana passada, uma carteira com US$ 4 mil (o equivalente a R$ 15 mil) e não hesitou. Entregou o objeto no serviço de achados e perdidos do complexo aeroportuário. Na quinta-feira, a funcionária se encontrou com a dona da carteira para concretizar a boa ação. Entregou, em mãos, o objeto para a mulher, uma moradora do Mato Grosso que viajou para Orlando, nos Estados Unidos. Em troca, ganhou um presente como forma de agradecimento.

Em 2004, o faxineiro Francisco Basílio Cavalcante ficou famoso no país, ao ponto de se tornar garoto propaganda do governo federal, após encontrar uma maleta com mais de US$ 10 mil — equivalentes, à época, a R$ 30 mil — e devolvê-la ao dono. Francisco usou o sistema de som do saguão para anunciar o achado. Momentos depois, o proprietário da maleta, um turista suíço, apareceu. Nesta semana, o bom exemplo veio de Genycleia de Araújo dos Santos. Assim como Francisco, a mulher de 30 anos trabalha na limpeza do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek.
Filhos e contas

Dia sim, dia não, Genycleia entra na sala de embarque do aeroporto. Fica mais tempo no terminal aéreo do que em casa. Perdeu as contas de quantos aviões viu decolar e pousar. Pelos corredores passa sempre atarefada, empurrando o carrinho de rodinhas e consultando a próxima escala: da área internacional à praça de alimentação e, por fim, o térreo. Há mais de dois anos essa é a rotina da mulher, que, apesar de conhecer cada canto do segundo mais movimentado aeroporto do Brasil, nunca entrou em um avião.

A prioridade dela é trabalhar para pagar as contas e sustentar os dois filhos, de 1 e 10 anos, com quem mora no Jardim Ingá, periferia de Luziânia (GO). Em mais uma manhã de serviço pesado, enquanto limpava a sala de embarque internacional, Genycleia calculava o valor da água, da luz e do aluguel para quitar “o que é mais o mais importante” com o salário que receberia em poucos dias. Achou uma carteira jogada entre as cadeiras. Nem quis abri-la. Entregou o acessório nos achados e perdidos e voltou ao trabalho.

Será que tinha uma enorme quantidade de dinheiro? De quem seria essa carteira? Uma graninha extra cairia bem. Nada disso passou pela cabeça de Genycleia. “Do jeito que estava no chão, peguei e entreguei. Não tive curiosidade de olhar, não era meu mesmo”, contou a funcionária, sem entender direito porque a resposta impressionava. Para ela, a educação é a riqueza herdada dos pais. “Este foi o exemplo que recebi e o que quero dar para os meu filhos”. Mais tarde, ela soube, por colegas de trabalho, que havia “uma boa quantidade” de dólares na caarteira. Mas não quis saber quanto era. 

A servidora pública de Campo Grande (MS) Renata Benites, 41 anos, demorou para perceber o sumiço da carteira. “Perdi na ida para Orlando. Passei a madrugada no aeroporto, peguei o voo, cheguei no hotel que nos hospedamos na cidade e só então, lá pelas 19h, percebi que a carteira com o dinheiro tinha sumida. Foi desesperador”, contou ao Correio. 

Eram U$ 4 mil perdidos e não havia nenhum documento junto às cédulas para comprovar quem era o dono do dinheiro, mas a administração do aeroporto a identificou. “Comprei um presente para a Genycleia, como agradecimento. Sei que é muito pouco comparado ao que ela fez, mas não poderia deixar de entregar algo para ela”, ressaltou.

Após voltar da viagem, Renata recebeu os pertences das mãos de Genycleia. “Eu me coloquei no lugar da pessoa. Se fosse comigo e alguém devolvesse, iria ficar grata e feliz. E ser reconhecida por um ato tão simples acabou sendo mais gratificante ainda”, comentou a funcionária, que foi presenteada pela desconhecida. 

O sonho da casa

De família humilde, Genycleia veio do Ceará para Brasília com os quatro irmãos, quando tinha 12 anos. Na capital, casou, teve o primeiro filho, Gabriel de Araújo, e, depois de nove anos, ganhou o Saymon Cleyton de Araújo, fruto do segundo casamento. Hoje, trabalha para garantir o futuro dos dois. Antes de trabalhar no aeroporto,  Genycleia foi ajudante de confeiteiro e de salgadeiro, atendente, caixa, saladeira.

Diariamente, ela pega dois ônibus para chegar ao trabalho. A viagem entre o Jardim Ingá e o aeroporto dura, em média, uma hora. Após 12 horas de faxina,  Genycleia volta para casa para que o marido Cleiton de Sousa Silva, 28 anos, saia para o expediente noturno como eletricista, também no aeroporto. O casal sonha com casa própria, sem contar com a sorte e, muito menos, com o que não é dele por direito.

"Do jeito que estava no chão, peguei e entreguei. Não tive curiosidade de olhar, não era meu mesmo”
Genycleia do Santos, funcionária do aeroporto de Brasília


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