Um bombeiro sorridente carrega uma criança no colo; outro corre para atender a um pedido de socorro; enquanto um terceiro comemora o fato de ter encontrado um sobrevivente. Esses são alguns dos desenhos que as crianças de Brumadinho (MG) e região têm enviado aos bombeiros que estão, há mais de três semanas, atuando no resgate das vítimas da tragédia.
Os desenhos estão sendo entregues no Batalhão do Corpo de Bombeiros ou diretamente para os socorristas. "Tem sido um alento para os nossos corações. Um estímulo importante para continuar um trabalho tão duro, tão difícil como o que estamos desempenhando. São 23 dias de trabalho (completados no sábado, 16)", disse o tenente e porta-voz dos bombeiros, Pedro Aihara.
Além dos desenhos, eles estão recebendo uma série de mensagens carinhosas. "Queridos bombeiros, eu me chamo Ana Vitória e estou gostando muito que vocês e seus cães farejadores estão procurando os corpos das pessoas...", diz uma.
Poesia
Na sexta-feira (15), alguns agentes envolvidos diretamente no resgate das vítimas gravaram um vídeo declamando um poema feito por uma criança de 10 anos para homenageá-los. "Os bombeiros são pessoas como nós/ mas salvam muitas vidas/ e são realmente verdadeiros heróis..." O poema, escrito por Helena, foi um pedido da professora, de lição de casa, que não demorou para chegar na mão dos bombeiros.A missionária da Igreja Batista, Dorothi Campos, uma das responsáveis por recolher as cartinhas e os desenhos das crianças, conta que os soldados têm se emocionado bastante com alguns pedidos. "Certas cartas são pedidos diretos para encontrar o pai e outros familiares. Teve uma, muito emocionante que dizia assim: "Bombeiros, obrigado por ajudarem nossa cidade e procurem a prima da Rosinha..."
O pedido para procurar Rosinha veio acompanhado de um desenho representando um sol sorridente, peixinhos no rio e a própria barragem que rompeu - com o seguinte aviso: "A barragem vai cair!"
A professora Adriana Soares, que dá aulas em uma escola do distrito de Aranha, próximo de Brumadinho, conta que, embora a orientação da Secretaria de Educação seja a de não forçar o tema da tragédia com as crianças, o assunto tem sido inevitável. "Na minha turma, de crianças de 6 a 8 anos, pelo menos 50% das crianças perderam algum parente ou amigo. Então, como professora, tenho de ser forte e deixá-los se expressar", afirma.
Adriana relata que as crianças têm usado os desenhos como uma forma de lidar com a tristeza. "Normalmente, o desenho de uma criança é colorido, cheio de cores fortes. Aqui, o desenho deles vem sempre com muito marrom - que é a ideia da lama. Às vezes tenho de engolir seco para não cair no choro."