Preso sob a acusação de ser o assassino de Marielle Franco e Anderson Gomes, o sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa, de 48 anos, tem longo histórico de relação com a contravenção e o crime organizado no Rio de Janeiro, embora nunca tenha sido denunciado por crimes relacionados a essas atividades.
Lessa teria trabalhado como segurança do bicheiro Rogério Andrade. Em outubro de 2009, foi vítima de atentado à bomba, que o levou a ter uma perna amputada. Hoje usa prótese. No ano seguinte, Andrade também foi vítima de atentado à bomba, em que um filho do bicheiro, Diogo, de 17 anos, foi morto.
O PM reformado já foi "caveira", ou seja, policial do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Também serviu no 9º Batalhão da PM, sob o comando de policiais responsáveis pela morte da juíza Patrícia Aciolly, em 2011. Lessa trabalhou ainda na Polícia Civil, na Divisão Antissequestro. Suspeita-se que atuaria como matador contratado para a contravenção e a milícia.
Isso explicaria o fato de um PM reformado, com soldo de cerca de R$ 8 mil, viver em uma casa ampla, em um condomínio de classe média alta em frente à praia na Barra da Tijuca, na zona oeste. Ainda conforme as investigações, Lessa teria uma casa em outro condomínio de luxo em Angra dos Reis, na Costa Verde fluminense. Também possuiria um carro que vale mais de R$ 100 mil.
Em abril passado, logo após as mortes de Marielle e Gomes, Lessa foi atingido por um tiro em um bar, na Barra da Tijuca. Inicialmente a polícia acreditava ser queima de arquivo. Mas, segundo o delegado Giniton Lages, responsável pelo caso, foi uma tentativa de assalto.
Lessa foi filiado ao PMDB (atual MDB) de 1999 a 2010, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral. Sua filiação se deu menos de um ano após ter sido homenageado na Assembleia Legislativa pelo então deputado estadual Pedro Fernandes Filho, quadro do partido no Rio, já morto. A homenagem, em novembro de 1998, foi justificada por Fernandes pelo modo como Lessa e mais 17 PMs na zona norte do Rio haviam conduzido uma operação.
O ex-PM Élcio de Queiroz, preso sob a acusação dirigir o Cobalt usado na morte da vereadora do PSOL e do motorista, foi um dos alvos, em fevereiro de 2011, da Operação Guilhotina da Polícia Federal. A ação prendeu 40 agentes civis e militares acusados de conivência com traficantes, contraventores e milicianos. Na época, Queiroz atuava no 16º BPM, em Olaria, zona norte. Foi expulso da corporação após o fim do inquérito, em 2015.
"Eles são compadres, parceiros de longa data. Trabalharam no Batalhão de Choque, e durante o carnaval, enquanto todos nós trabalhávamos, eles estavam em Angra dos Reis, andando de lancha, em uma casa alugada de alto luxo", disse a promotora Simone Sibílio, uma das responsáveis por investigar o assassinato. Queiroz é filiado ao DEM. Em nota, a sigla informou que vai aplicar a expulsão sumária do ex-PM e disse repudiar atos de violência.
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