Nos dias seguintes ao assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), em 14 de março do ano passado, duas hashtags, impulsionadas pela comoção gerada pelo crime, rapidamente viralizaram nas redes sociais: #MarielleSemente e #MarielleMultiplica. Ninguém sabe dizer exatamente quem criou os slogans, mas um ano depois do crime, completados nesta quinta-feira, 14, o nome de Marielle virou símbolo da luta contra as desigualdades e fez herdeiras diretas.
Três assessoras que trabalhavam em seu gabinete se elegeram deputadas estaduais em outubro: Renata Souza, Mônica Francisco e Dani Monteiro. Outra companheira de partido e amiga pessoal, Talíria Petrone, foi eleita deputada federal. A viúva de Marielle, a arquiteta Mônica Benício, abraçou a política e assumiu um cargo de assessora parlamentar em Brasília.
"Com a execução da Mari, o chamado para a linha de frente foi imediato", afirmou Renata Souza, de 36 anos. Ela era chefe de gabinete de Marielle, com quem trabalhava havia mais de 12 anos. Foi eleita a deputada estadual mais votada pelo PSOL, com 63.937 votos.
Como Marielle, Renata foi criada no Complexo da Maré, na zona norte. Agora, acaba de se tornar a primeira negra a assumir a coordenação da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio. "Sem dúvida, ela (Marielle) é a nossa referência máxima, um símbolo mundial da luta contra desigualdades, que nos impõe um desafio e uma responsabilidade muito grandes no trabalho pela redução dos feminicídios, na ampliação dos direitos humanos", disse a deputada.
Eleita com 40.631 votos, Mônica Francisco, de 48 anos, também trabalhava como assessora da vereadora. "A própria Marielle era também invisível, de certa forma", analisa a parlamentar, negra, líder evangélica, oriunda da comunidade do Borel, na zona norte. "A execução, de certa forma, a colocou nos holofotes, ajudou a romper esse silenciamento histórico contra o qual ela mesma lutava, ampliando a sua voz."
Com apenas 27 anos, Dani Monteiro é a mais nova das três assessoras a ser eleita deputada estadual. Como as companheiras de partido, também é oriunda de uma comunidade, no caso o Complexo de São Carlos, no Estácio, Centro.
De vereadora em Niterói a deputada federal, a trajetória política de Talíria Petrone, de 33 anos, também foi acelerada pela execução da amiga. Seu plano original era terminar o mandato de vereadora.
"Foi uma execução política, reação de setores do Estado que viram na Marielle, uma negra, favelada, socialista, uma ameaça ao poder constituído", resumiu Petrone. "Mas o efeito foi o contrário. Tivemos o maior levante de mulheres negras ocupando parlamentos. Essas lutas não mais serão silenciadas."
Viúva
A viúva de Marielle, de 32 anos, é ativista de direitos humanos há mais de 15 anos. Diferentemente da companheira, sempre fugiu da linha de frente.
Não foi nada planejado, conta Mônica, mas uma forma de superar a morte da companheira, de transformar "o luto em luta". "Quando me dei conta, já estava nesse lugar de figura pública", diz a ativista. "Foi uma forma que achei de continuar com ela, com sua memória, com seu legado; de fugir do luto e estar em luta." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..