O assassinato de cinco estudantes e duas funcionárias por dois ex-alunos na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP), dá mais força no Congresso Nacional às discussões sobre a liberação do porte de armas de fogo no país. Enquanto alguns parlamentares criticaram a valorização de uma “cultura da arma” defendida pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), outros apontaram que a liberação do porte evitaria tragédias como a que aconteceu no interior paulista. Contrários à flexibilização do porte de armas, os três senadores mineiros têm análises diferentes sobre como a tragédia vai influenciar as discussões sobre o tema no Parlamento.
''O que se debate aqui é o direito da pessoa se armar para defender a si mesma e a família, o que é bem diferente da tragédia em São Paulo''
Carlos Viana (PSD-MG), senador
Ontem, os senadores Antonio Anastasia (PSDB), Carlos Viana (PSD) e Rodrigo Pacheco (DEM) se disseram contrários à flexibilização das normas e avaliaram os impactos que os assassinatos na escola de Suzano podem ter nas discussões sobre o tema. “Não sou a favor da flexibilização do porte de armas. Penso que carregar uma arma tem que ser por meio de uma licença a uma pessoa muito preparada e em casos excepcionais”, disse Viana.
O senador avaliou que os debates em andamento no Congresso se voltam para os direitos de os cidadãos se defenderem em casos de violência. “Não acredito que a tragédia de Suzano vai influenciar diretamente o debate sobre a questão das armas. O que se debate aqui entre os representantes é a arma para a legítima defesa, o direito de a pessoa acessar um armamento para defender a si mesma e a família, o que é bem diferente da tragédia que aconteceu em São Paulo”, explicou.
''Se houvesse um servidor ou professor preparado e armado, essa tragédia poderia ser evitada''
Capitão Augusto (PR-SP), deputado federal
Também contra a facilitação do porte de armas, Rodrigo Pacheco ressaltou que os assassinatos no interior paulista apontaram vários problemas da sociedade brasileira. “Essa tragédia é reveladora de várias deficiências no campo dos valores, da família, da educação, do comportamento de jovens, por vezes influenciados negativamente pela internet. Não é só segurança pública. Mas não podemos negar que o acesso mais fácil a armas, num país com déficits como o nosso, é uma irresponsabilidade sem tamanho”, afirmou Pacheco.
Para Anastasia, a legislação atual sobre o porte de armas deve ser mantida e o episódio trágico de Suzano deve influenciar os debates em andamento no Congresso. “Esse certamente foi um caso que impactou todo o Brasil e os próprios parlamentares e que deve gerar alguma repercussão nas possíveis discussões acerca do tema”, avaliou o tucano.
''Espero que alguns não defendam que, se os professores estivessem armados, teriam resolvido o problema. Pelo amor de Deus''
RodrigoMaia (DEM-RJ), presidente da Câmara
Diferentemente da bancada mineira, o senador Major Olímpio (PSL-SP) defendeu que a liberação do porte seria uma saída para evitar casos como o de Suzano. “Se tivesse um cidadão com uma arma regular dentro da escola, professor, servente, policial aposentado, ele poderia ter minimizado o tamanho da tragédia”, disse Olímpio.
Polarização na Câmara
Na Câmara dos Deputados, a questão das armas voltou a dividir bancadas de oposição e de apoio ao governo Bolsonaro. A deputada Maria do Rosário (PT-RS) lamentou que alguns parlamentares defendam que professores devem estar armados em sala de aula e citou a recorrência de casos de assassinatos em escolas nos Estados Unidos como exemplo a não ser seguido pelo Brasil.
“Por lá eles buscam enfrentar o fato de que existe um ataque armado por dia. É esse modelo que nós queremos? O modelo que cultua as armas de fogo e as mortes? As crianças de Suzano, assim como as de Realengo, mereciam mais de nós”, disse a parlamentar, se referindo a outro caso de atirador que matou alunos em uma escola no Rio de Janeiro, em 2011. “Armas devem ser somente para autoridades públicas treinadas para usá-las”, afirmou a petista.
Presidente da comissão de Segurança Pública e coordenador da Bancada da Bala, o deputado Capitão Augusto (PR-SP) afirmou que o caso não enfraquecerá as cobranças por mais flexibilidade nas regras que tratam do porte de armas de fogo. “O clamor público permanece, que é o combate à violência. Esse caso pode ser usado favoravelmente à nossa intenção. Se houvesse um servidor ou professor preparado e armado, essa tragédia poderia ser evitada”, disse o parlamentar. Segundo ele, os dois atiradores “jamais teriam passado na avaliação psicotécnica exigida para ter a posse ou porte de armas de fogo”.
O deputado mineiro Cabo Júnio Amaral (PSL) considerou que o momento é de respeito ao luto dos familiares das vítimas, mas lembrou o caso de um assaltante que foi morto na porta de uma escola também em Suzano, em São Paulo, por uma policial mãe de um dos estudantes. “Naquele caso, graças a uma pessoa armada no local só morreu quem tinha que morrer, que era o bandido. Existem as armas legais e as ilegais. O Estado, tendo uma maneira de fornecer as armas, será mais fácil o controle”, disse Amaral.
Horas depois dos assassinatos em Suzano, o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) criticou parlamentares da Bancada da Bala que defenderam a flexibilização do porte de armas para evitar tragédias em escolas. “Espero que alguns não defendam que, se os professores estivessem armados, teriam resolvido o problema. Pelo amor de Deus. Espero que as pessoas pensem um pouquinho nas vítimas dessa tragédia e depois compreendam que o monopólio da segurança público é do Estado. Não é responsabilidade do cidadão”, disse Maia.