A vítima sabia nadar e conhecia o jovem que a viu viva pela última vez, no fim da tarde de domingo. As informações de parentes de Natália Ribeiro dos Santos Costacontradizem o depoimento do rapaz que é tratado como suspeito pela polícia. Ele afirmou ter conhecido a menina de 19 anos no clube onde amigos se reuniram para um churrasco, às margens do Lago Paranoá. O morador da Asa Norte também garantiu ter ido com a garota só até um parquinho infantil. No entanto, câmeras de vigilância filmaram ambos na água, onde ela foi encontrada morta na manhã de segunda-feira.
Familiares e amigos da vítima que acompanharam a retirada de Natália do lago afirmaram que ela tinha marcas pelo corpo, como arranhões e hematomas. A Polícia Civil não confirmou a informação. O suspeito tinha um ferimento no braço e passou por exame de corpo de delito no Instituto de Medicina Legal (IML), na segunda-feira. Ele alegou que a marca foi feita por Natália, com uma mordida, para provocar “ciúmes” na namorada dele, enquanto brincavam de “lutinha” na ducha do clube, a cerca de 30 metros da churrasqueira onde estava o restante do grupo de amigos, incluindo a companheira do jovem.
Após a suposta brincadeira, o rapaz disse que se deitou na grama do Clube Almirante Alexandrino (Caalex) e não viu mais Natália. Contou que, após quatro a cinco minutos “olhando para o céu”, procurou por Natália no lago, mas, como não a viu e a água estava parada, deduziu que a garota havia deixado o espelho d´água. O jovem foi ao encontro dos amigos, e, mesmo sem ver a menina, decidiu pedir um carro por aplicativo e ir embora com outras três pessoas. Amigas de Natália, porém, deram início à procura por ela no clube. Pararam ao anoitecer. Sem encontrá-la, fizeram uma campanha de busca pelas redes sociais.
Registros
Uma fonte policial contou ao Correio que o vídeo, encaminhado a peritos, mostra os dois jovens entrando no Lago Paranoá juntos. Em seguida, há um movimento brusco na água, mas não é possível identificar de quem, por causa da má da qualidade da imagem — a câmera está muito distante. Contudo, depois, só o suspeito sai. Estudante do curso técnico de Gestão da Tecnologia da Informação do Senac, o rapaz de 19 anos ainda se senta na grama em frente ao local e continua olhando para o lago, antes de ir embora.
Policiais civis detiveram o jovem logo após o corpo ser encontrado, na tarde de ontem. Ele se apresentou na 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá), de onde foi levado, algemado e descalço, para a 5ª DP. Prestou depoimento por duas horas e meia. O rapaz deixou a unidade às 19h35, livre, na companhia do pai, sem dar entrevista. A reportagem procurou o estudante na casa dele na segunda-feira e ontem. Deixou um contato de telefone com uma conhecida da família, caso ele quisesse se pronunciar. Até a noite de ontem, ninguém deu retorno.
Nenhum delegado deu declarações sobre o caso. A assessoria de comunicação da Polícia Civil também não se pronunciou. Para resolver o caso, os investigadores da 5ª Delegacia de Polícia (Asa Norte) aguardam os resultados da análise da filmagem e do laudo da causa da morte da universitária. Eles só descartam a possibilidade de suicídio. O corpo de Natália foi liberado pelo Instituto de Medicina Legal (IML) ontem. Ele será sepultado às 15h30 de hoje, na capela 7 do Cemitério Campo da Esperança.
Homicídio
Até ontem, 10 pessoas prestaram depoimento, mas nenhum era da família de Natália Ribeiro. Ao Correio, parentes e amigos da vítima afirmaram que a estudante conhecia o jovem filmado com ela no lago. Para eles, se trata de um homicídio. “Que seja feita a justiça!”, exigiu a mãe da universitária, Edivânia Ribeiro dos Santos, 47. Moradora do Paranoá, a dona de casa não vê outro desfecho para a morte da filha e refuta os dois depoimentos do jovem à polícia.
“É difícil cogitar que isso foi um acidente. A minha filha some e todos vão embora sem ela, se omitem completamente. Estranho também essa marca de mordida no braço do menino e esses depoimentos sem sentido. Acredito que ela não se afogaria, porque ela sabia, sim, nadar. E mesmo que tivesse tido um mau súbito, não tem cabimento ninguém chamar um bombeiro para resgatá-la”, ressaltou a mãe.
Edivânia contou que a filha tinha experiência em nado. Gostava de praias e sempre entrava no mar, além de ir a clubes e piscinas frequentemente. “Minha menina era cheia de vida, sonhos e gostava de ter a independência dela, mas sempre muito próxima da família”, lembrou a mãe.
Moradores da região do mesmo ciclo de amizade de Natália afirmaram, ainda, que o suspeito não só conhecia Natália, como já se relacionou com a vítima. “Ele vivia por aqui. Frequentava bares, lanchonetes da região. Por isso ele e a Natália se conheciam e já tinham ficado. Agora se mantinham esse relacionamento ou não, ninguém sabe”, contou um dos vizinhos e colega da universitária.
Mau presságio
Durante todo o último dia de vida de Natália, um sentimento de angústia tomou conta da mãe dela. “Passei mal e a minha menina me ligou perguntando se precisaria de ajuda. Disse só que queria vê-la e ela me disse que, depois do clube, iria me visitar”, contou Edivânia.
A espera se prolongou até o dia seguinte, quando Edivânia foi chamada para reconhecer o corpo da filha, às margens do Lago Paranoá. “Interromperam toda a vida de uma jovem brilhante com a maior crueldade. Acabaram com a nossa família. Só quero que paguem, porque o meu sofrimento é para sempre”, afirmou a mãe, em lágrimas.
Na manhã de ontem, familiares estiveram no apartamento em que a jovem morava sozinha, para tratar do gato de estimação dela e escolher a roupa para o sepultamento. “Ainda estamos traumatizados. Mas sabemos que a justiça será feita, seja aqui na Terra ou no céu. O que eu desejo é que ele (o autor do suposto crime) pague logo. Quem sabe, assim, ele consiga se arrepender e se salvar. Porque a justiça do céu é eterna”, comentou o irmão postiço da universitária (filho do padrasto de Natália), Eliandro de Santana, 27.