Desde o início da gestão Jair Bolsonaro, o Ministério da Educação (MEC) protagonizou uma "guerra cultural" no governo - da obrigatoriedade para alunos cantarem o Hino Nacional à revisão do golpe de 1964 em livros de História - e a segunda demissão no primeiro escalão do governo federal. Professor da Escola de Educação da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, o brasileiro Paulo Blikstein alerta que o aprendizado dos alunos foi esquecido no debate.
Um dos fundadores de um centro de empreendedorismo e inovação educacional, com foco em iniciativas brasileiras, Blikstein diz que há uma "falsa dicotomia" entre gastar muito com educação e gastar melhor. Para o professor, não é preciso escolher entre um e outro.
O que a indicação do ministro Abraham Weintraub, com experiência na área de Previdência, indica para o futuro da pasta?
Infelizmente, por enquanto as indicações foram quase todas fora da área de educação. Um gestor genérico vai precisar de seis meses para começar a entender gestão educacional. Então isso equivale a andar mais devagar. O ministro precisa interromper a agenda ideológica que parou o MEC por cem dias e começar a agenda do aprendizado. O MEC é um dos ministérios mais complexos e exige gestão especializada.
Quais os riscos e os desafios?
Em vez de ouvir planos estruturantes de longo prazo nesses cem dias, ouvimos que os adolescentes não têm de receber educação sexual, que o professor tem de andar armado, que o livro de História tem de ser revisto, que a escola tem de ser militarizada. Só factoides e ações sem embasamento empírico, dados, evidência. O desafio do (novo) ministro é parar esse negócio. Não é isso que se espera do MEC. O que se espera é um programa de longo prazo e execução, com competência, desses programas. Senão, há um sério risco de desorganização profunda do sistema, e quem paga a conta são os nossos alunos.
É possível um consenso entre educadores e os seguidores da ideias de Olavo de Carvalho?
Opiniões divergentes são importantes na democracia.
O que pode servir de inspiração para o País?
Antes até de comparar com outros países, nós temos de olhar para as experiências que deram certo no Brasil, como o Ceará e a cidade de Sobral.
As melhores práticas internacionais estão em consonância com a discussão das bases curriculares para o ensino básico?
O MEC deveria seguir o caminho que foi traçado até agora, principalmente seguir com a implementação da BNCC (Base Nacional Comum Curricular).
O presidente Jair Bolsonaro já disse que o problema da Educação no País não passa pelo montante de recursos que a área recebe, e sim pela forma como o dinheiro é gasto.
Há uma falsa dicotomia entre o nível e a qualidade do investimento. É uma falácia dizer que temos dinheiro suficiente, que é só mal gasto. São as duas coisas: é preciso ter mais investimento e precisa ser de qualidade. O Brasil é a oitava economia do mundo, e não pode ter a 30.ª melhor educação. A gente tem de ser ambicioso nisso.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..