A concretização da maternagem pode ser um momento muito solitário na vida de uma mulher. O bebê nasce e, por mais que a pessoa já tenha filhos, sempre é uma experiência diferente, inusitada, repleta de inseguranças.
A perda momentânea da individualidade, na medida em que se vê imersa em obrigações como o cuidar, o amamentar, o ninar e o vigiar, pode tornar o processo ainda mais solitário.
Para além disso, a mãe precisa lidar com uma cobrança social intensa. Não é raro ouvir frases como "toda mulher nasceu para ser mãe", não deixando espaço para dúvidas ou incertezas.
Pensando e vivendo tudo isso, seis amigas decidiram se reunir virtualmente para não passarem o puerpério - período após a chegada do bebê - sozinhas. Então, criaram um grupo no Whatsapp. Uma amiga foi convidando outra amiga, que chamou outra e outra. Um ano depois, 80 mulheres faziam parte daquele que foi batizado como Maternarede.
Quando a pequena Helena tinha quatro meses, sua mãe, a jornalista e doula Tatiana Fávaro, mal conseguia sair de casa. "Procurei ajuda profissional para entender o que era aquele turbilhão", conta. Três anos depois, ela engravidou de Francisco.
E a solidão do puerpério é acentuada na madrugada, quando os sons da vida cessam e resta apenas o choro do bebê. "O grupo me fortaleceu nas madrugadas, quando eu me sentia mais sozinha. Me ajudou a não enlouquecer", afirma Joema Maia Kagohara, mãe de Ben Yoshi.
O grupo Maternarede conecta também mamães de outras partes do mundo. É o caso de Iará Simis, mãe de Amélie, de quase um ano, que vive na Alemanha. "Estou longe de casa, da família e amigos.
A depressão pós-parto é um tema recorrente. Para ter o diagnóstico, a mulher precisa estar com sintomas da doença por, pelo menos, mais de um mês, de acordo com o DSM, manual internacional de Psiquiatria. No entanto, um outro processo de melancolia que ocorre com a mãe logo após o nascimento do bebê, chamado baby blues, ainda não é muito conhecido da população. E uma informação preocupante: acontece com frequência. Trata-se de um sentimento de angústia persistente.
Alguns especialistas chegam a falar em índices de 80% no caso do baby blues. "Ter uma rede de apoio é absolutamente necessário", afirma a psicóloga Maria Fernanda Nogueira, que atende puérperas na Casa Humanna, em Jundiaí, interior paulista. Especializada em perinatalidade e parentalidade pelo Instituto Gerar, Maria Fernanda afirma que a troca de experiências nos grupos pode ajudar as mães.
Regras de convivência no grupo
Para manter uma convivência saudável, foram estabelecidas algumas regras no grupo. Não postar assuntos que não sejam de interesse materno, nada de dezenas de "bom dia" e o mais desafiador: exercitar o não julgamento.
"Cada um tem um jeito de maternar. Claro que nos unimos por afinidade, pelo olhar humano para o parto e a maternidade, mas respeitar os limites e as histórias de cada um é um exercício de empatia", diz Tatiana Favaro.
Com um volume diário que chega a centenas de mensagens, as mães tiveram que se organizar e pensar em ganhar outras plataformas virtuais. O Maternarede também está migrando para redes como o Instagram (@maternarede_). Serão publicados os conteúdos de apoio trocados no grupo e textos das mães e parceiros da rede.
Saindo do mundo virtual, as mães já fizeram encontros presenciais e oficinas temáticas. "Eu sinto que o grupo cuida das mães enquanto as mães cuidam dos bebês. Quando o bebê nasce, todos querem cuidar do bebê e as mães são esquecidas. Essa é a principal função e missão do grupo", afirma Deh Bastos, mãe de José, de um ano. "Quando José ficou internado, havia médicos, família, amigos pensando nele. O grupo cuidou de mim", desabafa.
Mães interessadas em entrar para o grupo de WhatsApp podem enviar uma mensagem direta para as moderadoras através do Instagram, nos perfis @maternarede_ ou @tatifavaro..