A Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) já não divulga mais quanto ainda será necessário gastar para terminar as obras da Linha 17-Ouro, monotrilho que vem sendo construído desde 2011. Já não havia mais prazo para terminar a obra, mas agora a empresa, subordinada à gestão João Doria (PSDB), não informa também os custos.
Desde o fim de 2010 até agora, o contribuinte já gastou R$ 2,4 bilhões para a viabilização da obra, que deveria ter sido entregue em 2014, segundo dados corrigidos dos relatórios anuais da administração da companhia, de 2010 a 2018. Os sete contratos assinados pelo Estado até o momento, dois deles rescindidos, tinham um valor, também corrigido, de R$ 3,3 bilhão.
Embora 73% dos valores originais já tenham sido gastos, todo o material rodante, ou seja, trens e seus sistemas de comunicação e controle, sequer foram comprados. O Estado ainda precisa concluir quase metade das obras civis: 40% do avanço físico ainda precisa de conclusão.
Na última segunda-feira, dia 15, o Metrô abriu uma nova licitação para a compra dos trens e sistemas. Em função da lei das empresas de economia mista, de 2013, a companhia manteve em sigilo suas estimativas de custo da compra. Há ainda outra licitação para a conclusão de parte das obras civis, com custos também em sigilo.
A adoção do sigilo para licitações individuais é ato previsto em lei, para evitar que competidores que tivessem orçamento mais baixos do que o estimado pelo governo alterassem seus preços, o que resultaria em economia para o Estado. Mas o ente público não é impedido de apresentar o valor total de empreitadas, dado necessário para formatação da Lei de Diretrizes Orçamentárias e da Lei do Orçamento Anual, que precisa de aprovação da Assembleia Legislativa.
As novas licitações se fazem necessárias por causa da dissolução de empresas que haviam vencido os contratos originais do Metrô. A Scomi, uma fabricante de trens da Malásia, por exemplo, decretou falência. No fim de 2015, as construtoras Andrade Gutierrez e CR Almeida, que tocavam a obra, tentaram romper o contrato na Justiça, fazendo críticas quanto à gestão da obra por parte do Metrô. No mês seguinte, o Metrô rompeu unilateralmente o contrato.
Esses atrasos já fazem com que o monotrilho, modal apresentado como "moderno" e com implementação mais rápida, tenha demorado mais para ser construído do que foi a Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, erguida no século 19, quando o material pesado era puxado por carroças e havia mão de obra escrava. A estrada ficou pronta em oito anos.
A nova licitação para a compra dos trens, publicada na segunda, prevê recebimento das propostas em setembro.
Já a licitação para término das obras, que inclui as Estações Congonhas, Brooklin Paulista, Jardim Aeroporto, Vereador José Diniz, Campo Belo, Vila Cordeiro, Chucri Zaidan e o Pátio Água Espraiada, prevê entrega das propostas o mês que vem. Quando for assinado, o contrato terá prazo de vigência de três anos.
Por meio de nota, o Metrô informou que a obra da Linha 17 "enfrentou vários problemas nos últimos anos" e que "teve que rescindir contratos com as construtoras que abandonaram parte das obras de estações e do pátio de manutenção em janeiro de 2016".
A única pergunta feita pela reportagem, entretanto, não é respondida no texto: quanto custa o término da linha.
A nota é finalizada com a informação de que, até o momento, foram gastos R$ 2,06 bilhão na obra. A reportagem também questionou, posteriormente, o fato de o valor ser diferente do publicado nos relatórios anuais de administração da empresa (R$ 2,4 bilhão), mas o Metrô não respondeu..