Em janeiro de 2017, o Estado de Minas acompanhou de perto os desdobramentos da rebelião no Complexo Prisional Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, que deixou 56 mortos no primeiro dia do ano – outros quatro foram assassinados nos dias seguintes, em outras unidades prisionais. A reportagem especial Dois Destinos tratava sobre a calamidade do sistema prisional da região, alimentada pela ausência do Estado, a superlotação das celas e as ramificações cada vez maiores do crime organizado no Norte e Nordeste do Brasil, expondo uma crise sem precedentes, com mais de 120 mortos nas três primeiras semanas de 2017 – a título de comparação, o massacre do Carandiru, em 1992, em São Paulo, deixou 111 mortos.
Em 1º de janeiro daquele ano, integrantes da Família do Norte (FDN) deflagraram a rebelião e partiram para cima de pessoas ligadas ao Primeiro Comando da Capital (PCC), culminando na sequência de mortes violentas em 17 horas de terror. A FDN nasceu na década passada e atualmente é citada como a terceira maior do país. Segundo a Operação La Muralla, deflagrada pela Polícia Federal no fim de 2015, a FDN tem braços no Norte, Nordeste e em países como Venezuela, Colômbia, Peru e Bolívia. A região da tríplice fronteira, aliás, é uma das principais portas para a entrada de drogas no Brasil, a partir do escoamento pelo Rio Solimões.
O massacre da Compaj abriu uma série de rebeliões. Em 6 de janeiro, outros 33 foram mortos em rebelião na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista, capital de Roraima, em ação de resposta às mortes na capital amazonense. Na semana seguinte, em 14 de janeiro, outros 26 morreram em Alcaçuz, em Natal, quando bandidos do pavilhão 5 invadiram o pavilhão 4 para matar rivais.
Este ano, a Compaj voltou a ser o epicentro da batalha sangrenta que tomou conta das penitenciárias do Norte. Quinze pessoas foram mortas em motim, desencadeando uma série de mais 40 assassinados em outras penitenciárias da capital amazonense no dia seguinte.
DVDS DA VIOLÊNCIA
Em 2017, nas ruas de Manaus, a reportagem do Estado de Minas acompanhou o clima de medo e impacto das brigas de facções na rotina da capital amazonense. Nas bancas eram vendidos um DVD pirata, com capa impressa em baixa qualidade, intitulado “FDN x PCC, o massacre”, com cenas, filmadas em celulares dos próprios detentos, e que foram distribuídas via WhatsApp. Os vídeos mostravam os detalhes da matança, caracterizada por decapitações e mutilações dos detentos. Os DVDs esgotaram em muitas bancas do Centro e eram facilmente encontrados em bairros de atuação da FDN.