Dias após ser colocada em liberdade pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), a jovem Allana Brittes, 18 anos, quebrou o silêncio e falou sobre as circunstâncias da morte do jogador Daniel Corrêa, ocorrida em outubro do ano passado, em São José dos Pinhais (PR).
Em entrevista ao jornalista Roberto Cabrini, do SBT, exibida na segunda-feira (12/8), Allana, filha do assassino confesso, o empresário Edison Brittes, confirmou que o pai matou mesmo o jogador, mas disse que a mãe, Cristiana Brittes, também acusada pelo homicídio, é inocente, tendo sido vítima de uma tentativa de estupro, por parte do jogador.
Essa seria, inclusive, segundo sua versão, o motivo de Edison ter matado o atleta. A jovem ainda admitiu ser culpada das acusações que reacem sobre ela: coação no curso do processo, fraude processual e corrupção de adolescente.
Allana afirmou que Daniel não "morreu de graça" e que ele "procurou por isso", ao falar sobre por que seu pai matou o jogador. "No momento em que ele entrou naquele quarto, ele não pensou nas conseqüências. Era uma mulher casada, embriagada, em uma casa de família... Ele não pensou nisso. Ele pensou que pelo fato de ele ser jogador de futebol, ter dinheiro, podia fazer tudo. Mas as coisas não funcionam assim", disse.
Ainda de acordo com Allana, a mãe também é vítima na história e é a mais injustiçada, já que também é acusada de homicídio na morte do jogador. "Eu penso que, se uma mulher não tem privacidade no quarto dela, não tiver paz na própria cama, não sei onde ela terá", afirmou.
"Eu não bati no Daniel, não matei o Daniel, eu tentei impedir e não consegui. Eu sei que cometi alguns erros, posso ter sido imatura, mas eu estava tentando proteger meu pai, assim como ele estava tentando proteger minha mãe”, disse Allana.
O que aconteceu na casa?
Allana afirma que nenhuma festa após a comemoração do aniversário na boate foi combinada na casa da família e que Daniel e alguns amigos foram até a residência sem serem convidados. "Quando me ligaram e avisaram que estavam no portão, eu desliguei o telefone e disse que não abriria o portão. Eu fiquei brava com a inconveniência deles, mesmo eu tendo dito que não queria nada", relatou.
A jovem disse, então, que o pai, por seu muito receptivo, a convenceu a deixá-los entrar. Depois, ainda segundo seu relato, Evellyn Brisola, uma jovem que havia trocado beijos com Daniel na boate, pediu para dormir ali e que não queria mais ficar com o jogador.
As duas, então, teriam subido para o segundo pavimento, tomado banho e ido dormir, enquanto o restante das pessoas, entre elas Daniel, permaneceram na casa. Passados cerca de 10 minutos, um dos presentes, chamado Igor, pediu sua ajuda, porque um amigo dela tinha tentado abusar de sua mãe e uma confusão tinha se armado.
"Quando eu entrei no quarto, eu vi o meu pai enforcando o Daniel em cima da cama dos meus pais. Ele estava de cueca e camiseta.
Em seguida, ela contou, Daniel foi espancado, colocado no porta-malas do carro de Edison e levado até um matagal, onde teve o pênis decapitado e foi, em seguida, morto. Allana disse que, ao voltar para casa, seu pai teria se arrependido. "Ele me abraçou e disse 'me perdoa, filha' e começou a chorar. 'Eu só queria proteger sua mãe'", relatou a filha. "Meu pai foi tomado pela emoção, pelo ódio. Nunca imaginei que o Daniel pudesse morrer", disse.
O crime
O jogador Daniel Corrêa Freitas foi encontrado morto e decapitado em 27 de outubro, em São José dos Pinhais (PR), após participar da festa de aniversário de Allana Brittes, em uma boate de Curitiba. A comemoração continuou na casa da família Brittes.
As investigações apontaram que ele foi agredido na casa após ser flagrado na cama com Cristiana Brittes. O assassino alega que Daniel tentou estuprar a mulher, versão que a polícia e o Ministério Público descartam. Edison Brittes, Cristiana Brittes e Allana foram presos quatro dias após o crime. Somente ela foi solta, na semana passada.
Incialmente, a Polícia Civil denunciou seis pessoas: a família Brittes e três dos presentes na casa. O Ministério Público do Paraná, porém, decidiu denunciar também Evellyn Brisola Perusso, a jovem que trocou beijos com o jogador horas antes da morte (veja abaixo os crimes pelos quais cada um é acusado).
As denúncias
Edison Brittes Júnior — homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver, fraude processual e corrupção de menor e coação no curso do processo;
Cristiana Brittes — homicídio qualificado por motivo torpe, coação do curso de processo, fraude processual e corrupção de menor;
Allana Brittes — coação no curso do processo, fraude processual e corrupção de adolescente;
Eduardo da Silva — homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver, fraude processual e corrupção de menor;
Ygor King — homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver, fraude processual e corrupção de menor;
David Willian da Silva — homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver, fraude processual, corrupção de menor e denunciação caluniosa;
Evellyn Brisola Perusso — denunciação caluniosa, fraude processual, corrupção de menor e falso testemunho.