O embaixador Sérgio Amaral, que até há pouco tempo ocupava o mais alto posto do Itamaraty nos EUA, vê o Brasil de volta à berlinda na questão ambiental. "Nos últimos anos, éramos vistos como uma liderança e não como ameaça."
O Brasil está no meio de uma crise ambiental na Amazônia. Voltamos à berlinda de novo?
Acho que sim, depois de termos feito um longo progresso a partir da Rio 92. Progressivamente, o Brasil foi tomando consciência da questão ambiental: a sociedade se mobilizou para isso, sobretudo os mais jovens. O risco desse episódio é a gente perder o longo esforço feito para consolidar essa nova visão ambiental, um ativo que o Brasil conquistou.
Qual foi esse ativo?
Pouco antes de eu voltar para o Brasil, eu participei de uma reunião em Washington e um dos oradores era o Tom Lovejoy, ícone da causa ambientalista. Ele dedicou a conferência a mostrar como o Brasil tinha evoluído no compromisso com a proteção do meio ambiente e da Amazônia. E mostrou resultados completos de que como o desmatamento havia sido reduzido. O risco que eu vejo nesse episódio é o fato de não termos reiterado nosso compromisso com a causa ambiental.
Qual o risco que o País corre?
Temo que esse longo esforço venha a ficar comprometido e exija que comecemos tudo de novo para recuperar a confiança.
O que isso significa na prática?
O risco é que este voto no Parlamento possa se transformar em voto do consumidor. Mais do que tarifas, taxas ou represálias, o consumidor alemão vai preferir outros países ao Brasil. Ele vai associar a imagem dos nossos produtos à devastação da Amazônia. E na França a questão não é menos importante.
Lideranças do agronegócio estão preocupadas. A resposta do governo sobre como combater os incêndios veio tarde demais?
Acho melhor tomar medidas do que não tomar. Temos de ter políticas preventivas. E temos de cumprir essas decisões. As regras brasileiras de proteção ambiental são boas, mas o Brasil tem de dizer o que vai fazer para cumpri-las.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..