O cigarro é o mais importante fator de risco para o desenvolvimento de câncer de pulmão, mas o hábito de fumar pode levar a outras complicações pouco conhecidas ou discutidas, como câncer de bexiga, infertilidade e complicações para bebês cujas mães fumaram na gestação.
Segundo o urologista Maurício Rubinstein, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica (Sobracil-RJ), o cigarro é um fator de risco muito forte, dentro da urologia, para câncer de bexiga e de rim. "São raros os pacientes com diagnóstico de câncer de bexiga que não fumaram durante a vida", diz.
Isso ocorre porque as substâncias químicas da fumaça do cigarro são absorvidas pelos pulmões, entram na corrente sanguínea e são filtradas pelos rins. Esses órgãos têm um importante papel de eliminar as impurezas do organismo. Uma vez na urina, esses compostos do tabaco podem danificar as células da bexiga e contribuir para o desenvolvimento do câncer em longo prazo.
Segundo uma pesquisa do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), de 2017, o cigarro é responsável por 65% dos casos de câncer de bexiga em homens e 25% em mulheres. O estudo foi realizado nos 12 meses anteriores com pessoas atendidas pela equipe de urologia do instituto.
Fertilidade e risco ao bebê
Maria Cecília Erthal, especialista em reprodução humana do Vida - Centro de Fertilidade, diz que fumar durante a gestação aumenta o risco de aborto e parto prematuro. "Além disso, o recém-nascido de uma fumante fica mais irritadiço devido à crise de abstinência da nicotina que era absorvida por meio da placenta", explica.
Em entrevista anterior, o ginecologista Joji Ueno havia dito que o hábito de fumar, assim como o alcoolismo, pode perturbar a ovulação, sendo um risco para a infertilidade feminina. Já o urologista Silvio Pires afirmou que, como o cigarro altera a vascularização, isso pode interferir nos órgãos terminais, como os testículos, mas as complicações são secundárias, não diretas.
O oncologista Fernando Santini, membro do comitê científico do Instituto Lado a Lado pela Vida, explica que a ação do cigarro ocorre de forma simples, porém rápida. "Assim que se coloca o cigarro na boca e aspira a fumaça, esta alcança os pulmões.
Interromper esse hábito é a melhor maneira de prevenir todos esses impactos negativos, mas só essa recomendação não é suficiente. Primeiro, porque parar de fumar depende da vontade da pessoa que fuma e, segundo, porque essa prática envolve dependência à nicotina, uma droga que atua no sistema nervoso central.
Para quem resolve buscar ajuda, o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza grupos de apoio e tratamento gratuito para os dependentes. Nas Unidades Básicas de Saúde gerenciadas pelo Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim (Cejam), por exemplo, localizadas nas regiões do Capão Redondo e Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo, há encontros semanais em grupo.
Com uma abordagem cognitiva e comportamental, o foco do trabalho é desenvolver as habilidades necessárias para enfrentar situações de recaídas. Para participar do grupo de tratamento, a pessoa deve procurar a unidade de saúde mais próxima e se inscrever.
Apesar de ser em grupo, a avaliação e o tratamento são individuais.
Políticas públicas como essa podem ser responsáveis pela queda no índice de fumantes no Brasil. O porcentual de brasileiros que se declaram fumantes voltou a cair no ano passado, atingindo o índice de 9,3%, contra 10,1% em 2017, segundo a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) do Ministério da Saúde.
"A abordagem cognitiva e comportamental desenvolvida pelo Cejam é um modelo funcional, pois sua intervenção está focada não somente em ajudar na interrupção do ato de fumar, como também na mudança e desconstrução do padrão comportamental vinculado ao vício. As atividades têm a manutenção da abstinência como foco, e isso é um grande diferencial", afirma Beatriz Rabello, médica da família da organização. Confira aqui a lista de unidades de saúde que oferecem o serviço..