Simone Kafruni e Thays Martins
Brasília – Área mais rica em biodiversidade da América do Sul, o arquipélago dos Abrolhos começou a ser atingido pelas manchas de óleo do vazamento de petróleo cru que assola o litoral brasileiro. Localizado no sul da Bahia, Brasil, Abrolhos tem cinco ilhas: Santa Bárbara, Siriba, Redonda, Sueste e Guarita. Ontem, a Marinha confirmou que fragmentos do óleo foram encontrados na Ilha de Santa Bárbara, que não faz parte do Parque Nacional Marinho de Abrolhos. Equipes atuam no local para a remoção do material, que também foi encontrado em Ponta da Baleia, em Caravelas. A localização do resíduo de petróleo cru provocado pelo vazamento foi informada pelo Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA), formado pela Marinha, pela ANP e pelo Ibama.
Na quarta-feira, uma equipe do Ibama sobrevoou o local e não encontrou vestígios de óleo na região. Com a possibilidade de chegada das manchas, que estavam se deslocando para o sul da Bahia, o monitoramento na área do entorno do arquipélago foi intensificado. Moradores da praia de Caravelas, no Sul da Bahia, área central do Parque Nacional Marinho de Abrolhos, disseram que têm apenas 20 kits de equipamentos de proteção individual, os chamados EPIs. Como o material é tóxico, é necessário usar máscara, luvas, botas e macacão durante a limpeza do óleo. Contudo, o clima em Caravelas é de improvisação: até mesmo crianças coletaram pelotas de óleo sem os materiais de proteção.
O procurador-geral da República, Augusto Aras, afirmou, ontem, que disponibilizou a Secretaria de Cooperação Internacional dará prioridade à Operação Mácula, que mira o navio grego Bouboulina, suspeito de ser a origem do vazamento de óleo que atingiu as praias do Nordeste brasileiro. “A atuação repercute de forma extremamente positiva nacional e internacionalmente, prevenindo futuros casos e, por isso, merece todo apoio da PGR, que inclusive já disponibilizou a secretaria de cooperação jurídica internacional para que trate o caso como prioritário”, diz Aras. Segundo o Ministério Público Federal do Rio Grande do Norte, as investigações permitem atribuir 'existência cristalina de fortes indícios' de que o óleo veio do Bouboulina.
A empresa gestora Delta Tankers Ltd, do petroleiro grego Bouboulina, negou ontem estar envolvida na poluição. O navio, que fazia o trajeto da Venezuela à Malásia, “chegou a seu destino sem problemas e descarregou toda a carga sem perdas”, afirma um comunicado da empresa. “Não há evidências de que o navio parou, realizou qualquer tipo de operação STS (de navio para navio), sofreu algum vazamento, ou desviou-se de sua rota, em seu caminho da Venezuela para Melaka, na Malásia”, afirma a empresa. A companhia de navegação, com sede em Atenas, disse ter realizado “uma investigação completa do material das câmeras e sensores que todos os nossos navios carregam como parte de nossa política de segurança e respeito ao meio ambiente”.
Maior desastre Na região de Abrolhos fica o primeiro parque nacional marinho do país, criado em 1983, onde fica uma das maiores biodiversidades do país, abrigando corais e outras espécies ameaçadas. A região é também berçário de espécies como a baleia Jubarte. A Marinha informou que oito embarcações monitoram a região. Desde que manchas de óleo cru começaram a atingir o litoral, em agosto, foram retiradas aproximadamente 3,8 mil toneladas de resíduos de óleo das praias nordestinas. O dado foi divulgado pela Marinha após levantamento feito pelo Ibama. Todos os estados do Nordeste já tiveram praias atingidas. Novas manchas começaram a atingir o litoral da Bahia nos últimos dias. Segundo investigações da Polícia Federal (PF), há suspeitas de que o óleo tenha sido derramado pelo navio Bouboulina a cerca de 700 km da costa brasileira.
Após mais de dois meses desde que as primeiras manchas de óleo foram identificadas no litoral brasileiro, ainda são muitas as dúvidas em relação ao acidente. Apesar dos muitos questionamentos, essa não é a primeira vez que o Brasil se depara com uma situação parecida. Ao longo da história, o país enfrentou alguns vazamentos de petróleo, que inclusive foram responsáveis para que hoje se tenha um Plano de Contingenciamento para este tipo de situação. Cada episódio teve suas peculiaridades, mas há pontos em que esses acidentes podem ajudar a prever as consequências do de hoje. Mas uma coisa é certa, o país nunca esteve diante de algo como o que enfrenta agora. (Com agências)