Jornal Estado de Minas

Colégio de Belém gera revolta ao aplicar prova de Português com questões homofóbicas


Pouco mais de um mês após a polêmica anulação de uma prova do Colégio Loyola, em Belo Horizonte - que continha um texto crítico ao presidente Jair Bolsonaro, de autoria do escritor Gregório Duvivier - outra avaliação virou assunto nacional. O palco das discussões desta vez, é uma escola adventista de Belém do Pará





A instituição causou revolta entre pais e alunos ao aplicar um questionário de Língua Portuguesa que incluía questões como “A bíblia condena a relação homossexual?”, “O homossexualismo (sic) tem perdão?”. Ministrada aos alunos do 9º ano do Ensino Fundamental, a atividade é um dos assuntos mais comentados do Twitter nesta terça-feira (19). 

A repercussão foi gerada a partir de posts publicados nos stories do maquiador Herisson Lopes, irmão de uma aluna do Colégio Adventista de Correios. Nas postagens, Herisson denuncia, indignado, o exercício de 50 perguntas dissertativas, baseadas no livro De bem com você (Casa Publicadora Brasileira, 232p.), da pedagoga Sueli F. de Oliveira e do teólogo Marcos De Benedicto. Organizada em esquema de perguntas e respostas, a publicação voltada ao público adolescente sugere que a homossexualidade “é fenômeno que se instala “em lares onde a figura do pai é fraca”, o que faz com que o menino seja “apassivado pela mãe”. A obra afirma ainda que “ser gay é uma escolha do indivíduo”



“Me preocupa que a escola esteja abordando a homossexualidade com esse viés no país que mais mata pessoas LGBT no mundo. A instituição pode não ter consciência disso mas, amanhã, o jovem exposto a esse conteúdo pode se transformar no homofóbico que agride gays”, afirma o maquiador. “Além disso, a prova, que é de Português, não parece cumprir seu objetivo, pois não traz qualquer pergunta sobre regras gramaticais ou de concordância, por exemplo. Então ela soa mesmo como algo tendencioso, feito para disseminar crenças cheias de preconceito”, avalia Lopes.





Herisson conta que tomou conhecimento da avaliação ao passar pela sala de sua casa, onde a irmã estudava com alguns colegas. "Eles mesmos estavam chocados com as questões propostas na atividade. A minha família toda, na verdade, está. Minha mãe mesmo é evangélica, mas não compactua com a homofobia”, relata o maquiador, que preferiu não identificar a irmã para evitar que ela seja alvo de bullying e retaliações na comunidade escolar. 

Lopes não pretende manter a denúncia apenas no âmbito da Internet. O paraense diz que vai acionar o Ministério Público, de modo a pressionar o colégio a rever suas diretrizes. “Alguns representantes de órgãos e autoridades chegaram a me procurar. Ainda não discutimos o que será feito, mas vamos tomar providências. Tudo dentro da lei, sem excessos, nem violência. Aliás, é importante ressaltar que a minha primeira atitude foi procurar a direção da escola para uma conversa, mas eles não dialogaram comigo. O que fizeram foi justificar que prova havia sido demandada por uma professora sem o conhecimento da instituição. No mais, me pediram para aguardar, pois a escola iria se pronunciar por meio de um comunicado oficial”, conta. 

“Debate qualificado”

Procurada pelo Estado de Minas, a direção da Colégio Adventista dos Correios se pronunciou por meio de nota de esclarecimento. De acordo com a Instituição, “as questões contidas no questionário tinham como objetivo colher as diversas opiniões e sentimentos sobre a temática em estudo e davam a cada estudante a oportunidade de expressar livremente sua opinião. Um livro serviu como auxílio na tarefa, o que ocorre em várias disciplinas”. 





Leia o texto na íntegra:

O Colégio Adventista de Correios esclarece alguns aspectos relacionados a uma notícia sobre uma atividade escolar:

1. As questões contidas no questionário tinham como objetivo colher as diversas opiniões e sentimentos sobre a temática em estudo e davam a cada estudante a oportunidade de expressar livremente sua opinião. Um livro serviu como auxílio na tarefa, o que ocorre em várias disciplinas.
2. A tarefa que o professor elegeu levou em conta o conhecimento prévio do aluno. E, com isso, procura proporcionar um debate qualificado a respeito do assunto. A ideia é a de formar um cidadão que respeita opiniões diversas, bem como seja capaz de pensar por si próprio sobre as temáticas apresentadas.
3. O Colégio afirma que, acima de tudo, respeita todos os indivíduos sem qualquer tipo de discriminação sexual, racial, religiosa, ou de outra natureza.
4. O Colégio, que é uma instituição confessional, é reconhecido pela confiança e credibilidade que transmite, especialmente por apresentar uma proposta educacional de alta qualidade, pautada em valores baseados na Bíblia e direcionada a promover o desenvolvimento harmonioso das faculdades físicas, intelectuais, espirituais e sociais de cada aluno.
5. O Colégio está e sempre esteve à disposição





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