A Igreja Católica já estuda um milagre que pode tornar santo o padre Donizetti Tavares de Lima, beatificado oficialmente neste sábado, 23, em Tambaú, interior de São Paulo. Conforme o bispo dom Antônio Emidio Vilar, da diocese de São João da Boa Vista, que inclui Tambaú, é necessário que haja a comprovação pelos médicos, por meio de exames, de que se trata de algo extraordinário para a canonização. "Nós aguardamos os exames para essa comprovação", disse, sem dar mais detalhes.
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Bolsonaro confirma interesse em exportar madeira nativa da AmazôniaExportação de árvores nativas pode ser autorizadaSuspeito de dar 'sumiço' em ouro de Guarulhos tem câncer avançadoMarquise de shopping desaba e mata jovem de 18 anosA solenidade de beatificação do religioso, que incluiu missa campal, foi assistida por 20 mil pessoas, sob sol forte, neste sábado, em Tambaú. Para muitos, padre Donizetti já é santo. "Os milagres já existem, é só uma questão de tempo para que sejam reconhecidos", disse Terezinha Cândida Novaes, de 46 anos, que viajou mais de 400 km, desde Itapeva, para assistir a cerimônia.
O aposentado Domingos Antonio Somera, de 73 anos, quis relatar à reportagem o que ainda não havia contado a ninguém. "Quando eu tinha 5 anos, minha mãe me levou para tomar a bênção do padre. E ele me olhou e disse para ela me levar no médico, pois eu estava com apendicite. Ela me levou e descobriram que era um caso agudo e eu podia morrer."
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Houve emoção e aplausos quando o adolescente Bruno Henrique Arruda de Oliveira, de 13 anos, que recebeu o milagre aceito pelo Vaticano para considerar o padre bem-aventurado, subiu ao altar com as relíquias de padre Donizetti. A imagem oficial do padre foi apresentada aos devotos sobre o altar.
O bispo dom Vilar cumpriu o rito de beatificação, pedindo ao cardeal Angelo Becciu, representante do papa Francisco, a inscrição do venerável Donizetti Tavares de Lima no número de bem-aventurados da Igreja Católica. Em seguida, o cardeal leu a carta apostólica na qual o pontífice acolheu o pedido. As letras apostólicas foram lidas em latim, a língua oficial da Igreja.
Na homilia, dom Vilar pediu "pelos governantes do Brasil e do mundo, a fim de que em tudo contribuam para a vida, para a solidariedade e a fé", e "por todos os que, a exemplo do bem-aventurado Donizetti, se colocam a serviço da justiça e da caridade".
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O bispo lembrou que o padre, vivendo num período complexo da história do Brasil, não excluía ninguém "Para ele, todos os homens eram iguais, (ele) não olhava para a cor da pele, a cultura, a fé da pessoa. Foi um antecipador dos direitos humanos contra a desenfreada corrida imposta pelos interesses econômicos que destroçam a pessoa humana. Desafiou contrariedades e perseguições, arriscou a vida colocando-se na defesa dos doentes e operários."
Na coletiva à imprensa, o cardeal Angelo Becciu disse que o papa Francisco falaria sobre a beatificação de padre Donizetti, durante a cerimônia do Angelus, deste domingo. 24, no Vaticano. "O papa Francisco quer que ele sirva de exemplo para todos os padres, em toda a Igreja." Bruno e seus pais, Adriano Hilário de Oliveira, de 42 anos, e Margarete Rosilene Arruda de Oliveira, 46, deram testemunho do milagre e da mudança da vida deles depois do acontecido. "Sei que agora represento a esperança para muitas pessoas que estão doentes e acreditam que, como aconteceu comigo, Deus pode operar um milagre na vida delas", disse Bruno.
'Cura foi considerada inexplicável à luz da medicina'
Bruno nasceu com uma deformidade conhecida como pé torto congênito bilateral e não conseguiria andar. Seus pais eram devotos de padre Donizetti e a mãe, depois de tentar desentortar os pés de Bruno com as mãos, começou a chorar e pediu a intercessão do religioso. Ela prometeu levar os sapatinhos de Bruno à casa do padre, em Tambaú, caso fosse atendida.
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No dia seguinte, ao acordar, ela pôs o menino em pé sobre a mesa e ele pisou com os pés retos, como se não tivesse a anomalia. Levado outra vez ao ortopedista, o médico constatou que ele não tinha mais nada nos pés e chegou a dizer que Deus tinha curado a criança.
Conforme o padre Anderson, os relatos e documentos referentes à cura foram juntados no processo de beatificação, que tramitava havia 24 anos, e foi decisivo para o decreto do papa. O Tribunal Eclesiástico que avaliou o caso considerou que a cura preenchia os requisitos exigidos pela Igreja para aceitar o fato como milagre.
"O pedido foi feito apenas ao padre Donizetti para que intercedesse junto a Nossa Senhora Aparecida. Se fosse dirigida a mais de um santo ou venerável, não seria aceito pela Igrejá. O menino apresentou cura instantânea, completa, sem deixar sequelas, e duradoura. Vejam como ele está muito bem até hoje. E a cura foi considerada inexplicável à luz da medicina", disse.
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Padre nasceu em MG, mas dedicou 35 anos da sua vida a Tambaú
Tambaú não é a cidade natal do padre Donizetti, que nasceu em Cássia (MG), em 1882, mas foi a ela que o religioso dedicou os últimos 35 anos de sua vida. Foi ali que ele morreu e foi sepultado em junho de 1961, já com a fama de milagreiro. Na história oficial do município, consta que ele curou as pernas cheias de feridas de um vendedor de vinhos. O homem contou o milagre para comerciantes de cidades vizinhas e, em poucos dias, os romeiros começaram a chegar a Tambaú para receber as bênçãos do religioso.
A fama cresceu quando, em outubro de 1929, a igreja de Santo Antônio pegou fogo. O padre entrou nos escombros e saiu com a imagem de Nossa Senhora Aparecida nas mãos, intacta. A história relata que o menino Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, esteve na cidade em 1955 com seu pai e, durante o sermão, o padre teria dito que "há um menino aqui que se tornará um atleta não só conhecido no país, como no mundo".
Outra história, confirmada pelo protagonista, é a do jornalista Joelmir Betting, nascido em Tambaú, e que foi coroinha do padre. O então garoto Joelmir tinha um problema de gagueira, que desapareceu depois que o sacerdote rezou um Pai Nosso segurando em sua mão.
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A cidade, de 23.207 habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vive em função do padre. Cerca de 200 mil devotos por ano movimentam a economia local, injetando R$ 6 milhões no comércio e serviços, segundo o diretor municipal de Turismo, Edilson Faria. Somente em julho, mês em que o padre morreu, são 40 mil fiéis.
Segundo ele, os devotos procuram o Santuário de Nossa Senhora Aparecida, onde fica o jazigo com seus restos mortais, a casa em que o padre morou, aberta à visitação, a réplica da igreja de São José e o mausoléu no cemitério - mesmo sabendo que, o túmulo está vazio desde 2009, quando os ossos foram transferidos para o santuário.
Brasil tem 37 santos e 50 beatos
A Igreja Católica considera que o Brasil tem 37 santos, incluindo os que nasceram em outro país, mas viveram e se santificaram aqui. Dois são nascidos no Brasil: Santo Antônio de Almeida Galvão, nascido em Guaratinguetá (SP), e a recém-canonizada Santa Dulce dos Pobres, nascida em Salvador (BA). Também são muito conhecidos São José de Anchieta (padre Anchieta), nascido na Espanha, e Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus (madre Paulina), nascida na Itália. A lista inclui 30 santos mártires do Rio Grande do Norte e três do Rio Grande do Sul.
Este ano, além do padre Donizetti, o papa Francisco autorizou também a beatificação da menina brasileira Benigna Cardoso da Silva, que morreu mártir aos 13 anos de idade e é chamada de "heroína da castidade". Ela nasceu em outubro de 1928 em Santana do Cariri (CE) e, em 1941, foi assassinada após recusar a ter relações sexuais com um adolescente.
O Brasil tem outros 50 beatos, alguns bastante conhecidos do povo, como Nhá Chica, como ficou conhecida Francisca de Paula de Jesus, morta em Baependi (MG), e a freira Lindalva Justo de Oliveira, que se tornou mártir em Salvador (BA).
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