A produtora Brasil Paralelo, surgida em 2016, vai transmitir uma de suas séries na TV Escola, de sinal aberto, destaca o jornal O Estado de S. Paulo. Dividida em cinco episódios, Brasil: a Última Cruzada já no episódio inicial traz uma entrevista do "guru de Bolsonaro", o ideólogo Olavo de Carvalho.
No site da produtora, a série, lançada na internet em 2017, é definida como "o maior resgate histórico já produzido no País". No Twitter da TV Escola, está a informação de que a Brasil Paralelo cedeu a série para que o canal a exibisse. A TV anuncia que os episódios iriam ao ar até sexta-feira, sempre às 21 horas. "Nossos documentários são gratuitos, qualquer um pode reproduzi-los e ficamos felizes quando decidem fazê-lo, não faz sentido impedir. A Brasil Paralelo não recebe nenhum centavo de dinheiro público, 100% da nossa receita vem das assinaturas dos membros", informou a produtora no Twitter.
Estreia hoje a série %u201CBrasil: A Última Cruzada%u201D, que reconta a história da fundação do país. Neste primeiro episódio, conheça a jornada que teve início do outro lado do oceano, em Portugal. Assista ao episódio completo, às 21h, ou no app da #TVEscola. Uma cessão Brasil Paralelo. pic.twitter.com/uQRbFaiE0o
— TV Escola (@TVEscola) December 9, 2019
A TV Escola é um canal de televisão gerido pela Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), que se apresenta como uma organização social independente, de direito privado. Chegou a fazer parte do Ministério da Educação, mas desde 2015 mantém apenas contrato de gestão com o MEC para produção de conteúdo e gestão operacional.
Procurada, a Acerp disse que a decisão de transmitir o documentário foi tomada em reunião de pauta entre as áreas de programação, produção e direção, levando em consideração o "objetivo de diversificar a programação". Ao ser questionada pela reportagem se o MEC ainda tem interferência na programação - considerando currículo das escolas e cursos de graduação -, informou que o ministério é quem deveria responder. Já o MEC disse que a TV Escola tem independência.
O Estado apurou que a escolha dos materiais a serem veiculados é feita pelo conselho da associação, sem a necessidade da avaliação de educadores. A autonomia era vista como uma forma de impedir que materiais fossem censurados, mas há um temor de que a ausência de uma avaliação possa permitir a veiculação de materiais sem qualidade pedagógica.
Para a historiadora Maria Aparecida de Aquino, professora da USP, a ausência de regras para a definição da programação de um canal educativo tem como objetivo evitar a "asfixia" e censura dos conteúdos, mas exige uma posição responsável de quem os seleciona. "É bastante preocupante veicular em um canal de sinal aberto, voltado para estudantes e professores, um material sem comprovação histórica, sem documentos que possam dar embasamento a essa visão."
A produtora diz em seu site que a série pretende "desenterrar o nome dos grandes homens na nossa história" e "ajudar a devolver a história que nos foi negada". A produção ajudou a dar projeção ao recém-nomeado presidente da Biblioteca Nacional, Rafael Nogueira, filósofo e professor conhecido em canais de YouTube da direita bolsonarista e contrário ao republicanismo brasileiro que derrubou a monarquia em 1889.
A iniciativa foi criticada, mas também comemorada nas redes sociais. "Teremos Olavo de Carvalho na TV aberta. Grande dia", comemorou Allan dos Santos, blogueiro bolsonarista criador do site Terça Livre. Um dos principais entusiastas da produtora é o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que quando era cotado para assumir a Embaixada em Washington dizia estudar História com as séries da Brasil Paralelo. "Temos uma lindíssima história e ela há de ser recuperada. Agora: Brasil Paralelo na TV Escola", disse ele, nesta segunda-feira, 9, em seu Twitter.
Influência
Com forte influência no alto escalão do governo Bolsonaro, Olavo conseguiu indicar muitos nomes para o MEC no início da gestão. Após uma série de polêmicas e muitas críticas, o ideólogo perdeu a maioria dos indicados. Atualmente, tem apenas um deles no alto escalão, o secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.