Jornal Estado de Minas

coronavírus

Brasileiros na China se 'armam' contra o coronavírus; mineiro de BH faz relato

Mulher caminha com máscara protetora em uma rua de Wuhan, cidade onde o surto do coronavírus começou (foto: NICOLAS ASFOURI / AFP)

Enormes avenidas vazias. Pontos turísticos fechados durante o feriado do ano-novo lunar. Nas raras saídas de casa, máscaras de proteção como item obrigatório. O cenário fantasma em nada lembra a rotina frenética da nação mais populosa do mundo. Brasileiros que vivem na China relatam temor de que o surto do coronavírus em Wuhan, na Província de Hubei, se espalhe por outras regiões do país.


A cerca de 300 quilômetros a sudoeste de Pequim, o engenheiro geológico Júlio Cézar Kattah, de 24 anos, foi orientado a não deixar o alojamento da universidade onde estuda em Shijiazhuang, capital da Província de Hebei. "A universidade não permite que a gente saia daqui a menos que tenha alguma circunstância especial", diz Kattah. "Muitos estão pensando em ir embora." O mineiro de Belo Horizonte conseguiu escapar ao ajudar uma professora na compra de mantimentos para a universidade. Kattah se surpreendeu com a cidade vazia e gravou vídeos para registrar a "situação muito estranha".

Homem pedala pelas ruas desertas de Wuhan, cidade onde o surto do coronavírus começou (foto: NICOLAS ASFOURI / AFP)




"Todo mundo está ficando dentro de casa mesmo. Ninguém está saindo. Você vê no WeChat (aplicativo de mensagens chinês) o pessoal perguntando se alguém tem uma série para recomendar", diz Kattah. "Colegas que ligam para mim, fazem videoconferência para preencher esse tempo."

"As ruas parecem um grande deserto. Isso é um pouco impressionante nesta época do ano", diz a radialista Denise Melo, de 35 anos. "Em Pequim, fecharam todos os pontos turísticos: a famosa Cidade Proibida, o Palácio de Verão, que normalmente é lotado, está tudo fechado."




Paulistana, Denise mora na capital chinesa há um ano e meio. Ela tem saído de casa apenas para ir ao trabalho na Xinhua, agência de notícias do governo chinês. Mesmo a mais de mil quilômetros do epicentro do surto, não se sente totalmente segura. Pequim tem casos de infecção e anteontem as autoridades confirmaram a primeira morte na capital chinesa.


Sem medo


Já em Qindgdao, na Província de Shandong, a mais de mil quilômetros de Wuhan, a engenheira eletricista Joice Fiaux diz que o cenário não é de pânico, apesar da recomendação para ficar em casa e de algumas restrições em viagens intermunicipais. "Não há pânico. Ações estão acontecendo de modo coordenado", diz a carioca, que cursa mestrado na Universidade de Petróleo da China.

Os três brasileiros lembram que muitos serviços já estariam fechados por causa do ano-novo lunar. O governo chinês decidiu estender o feriado até o próximo domingo. "A China sempre se prepara para um ano-novo muito colorido e, neste ano, não foi diferente. Tem lanternas, luzes, grandes estátuas e cartazes", lembra Joice. "A diferença é que as pessoas estão mais em casa." Os brasileiros contam que a vigilância sanitária é rígida. Na entrada dos mercados e estações ferroviárias, há agentes de saúde que medem a temperatura das pessoas. Nas universidades, Kattah e Joice são examinados diariamente. E ninguém é visto na rua sem máscara.


Denise diz que tem um estoque de máscaras em casa. Já Kattah afirma que o item está em falta em Shijiazhuang e só conseguiu comprar pela internet, pagando caro. Ele diz que alguns golpistas estão retirando máscaras do lixo e desinfetando-as para revendê-las.

Os três acham afirmam estar preparados para enfrentar o coronavírus. "Não tenho medo. Observo bem as medidas de segurança do governo chinês e vejo que eles estão realizando um trabalho muito sério", diz Joice. "Manter a calma e esperar é o melhor a fazer." Denise pede que brasileiros que têm parentes na China não entrem em pânico, pois a situação não é desesperadora. "Acho que é (um recado) mais para minha mãe", brinca.