A embarcação é de propriedade e operada pela empresa sul-coreana Polaris. As 294,8 mil toneladas equivalem a quase 100% da capacidade de transporte da embarcação, que pode carregar até 300 mil toneladas.
Além do volume de minério, a embarcação carrega mais 3,5 mil toneladas de óleo residual e 140 toneladas de óleo destilado, que são usados como combustível do navio. As informações sobre a carga só foram fornecidas pela Vale após dois dias de questionamentos pelo Estado.
O MV Stella Banner saiu do porto de Itaqui (MA) em 24 de fevereiro com destino a Qingdao, província de Shandong (China). O navio, que tem 55 metros de largura e 340 de comprimento, o equivale à área de mais de três campos de futebol, encalhou a 100 quilômetros da costa maranhense. O acidente ocorreu na noite de segunda-feira, já fora do canal de acesso ao porto. Para evitar o naufrágio, o comandante do navio adotou uma manobra de encalhe.
A mineradora afirmou que "tem empenhado todos os esforços e recursos para mitigar os possíveis impactos causados pelo incidente". Os 20 tripulantes do navio já foram retirados em segurança, segundo a empresa. A Vale pediu à Petrobrás o apoio dos navios Oil Spill Recovery Vessel (OSRV) para contenção de eventual vazamento de óleo. A petroleira confirmou o apoio.
A mineradora declarou que buscou a "contratação de especialistas em salvatagem, adicionalmente à empresa contratada pela proprietária e operadora do navio, para acelerar o plano de retirada do óleo da embarcação". Foram solicitadas ainda boias oceânicas off shore, que podem servir preventivamente como barreiras de contenção adequadas para mar aberto, se necessário, além de colocar à disposição helicópteros para a movimentação de pessoal até o local.
"A Marinha instaurou um inquérito administrativo para apurar causas, circunstâncias e responsabilidades do incidente", informou o Comando do 4.º Distrito Naval da Capitania dos Portos do Maranhão.
Uma reunião já foi realizada com a presença de representantes da Vale, da autoridade portuária, do agente marítimo e de mais dois membros da empresa Ardent Global. Um rebocador para conter danos ambientais foi enviado pela Vale.
Crise de reputação
Caso se confirme o naufrágio e seus potenciais danos ambientais, a Vale terá seu nome vinculado a um desastre pela terceira vez em menos de cinco anos. O episódio agrava a crise de reputação iniciada com o rompimento da barragem da Samarco - sociedade com a gigante anglo-australiana BHP -, em novembro de 2015. No auge do episódio que contaminou o Rio Doce, a Vale se declarou uma "mera acionista" da empresa. Posteriormente, veio a tragédia de Brumadinho, que deixou 270 mortos e desaparecidos e novo rastro de lama em Minas Gerais, em janeiro do ano passado.
Os desastres têm reflexos na relação da companhia com uma série de atores: sociedade, órgãos ambientais, governo, investidores. A empresa enfrenta protestos de organizações da sociedade civil e é ré por crime ambiental. Do lado financeiro, a Vale registrou só em relação a Brumadinho despesas e provisões de R$ 28,8 bilhões, mas já admite reservar até R$ 8 bilhões a mais em compensação adicional à sociedade e ao meio ambiente, caso as autoridades se comprometam a dar fim às ações civis públicas.
O colapso da barragem de Brumadinho foi o gatilho para investidores estrangeiros pressionarem mineradoras por maior transparência e segurança. A Vale entrou na mira de gestores estrangeiros que se desfizeram de títulos e ações da companhia. Questionada, a Vale não quis comentar os possíveis desdobramentos do episódio.
Segundo uma fonte do setor de mineração, o custo estimado da perda do navio seria de R$ 200 milhões para o armador. Já a carga de minério significaria cerca de R$ 120 milhões na conta da Vale. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.