O medo é a companhia constante de brasileiros que estão no exterior. É o que conta a advogada Marina Machado, de 29 anos, que está presa na Cidade do Cabo, na África do Sul, junto com o noivo, o também advogado Israel Catazani, de 27 anos. Os dois chegaram ao país africano no último dia 7 e deveriam ter retornado na última semana, mas problemas com a companhia aérea e o fechamento do espaço aéreo de alguns países daquele continente transformaram a vida deles e de outros 120 brasileiros num verdadeiro pesadelo. Pior, cheio de incertezas e que está custando caro a eles.
O casal, que vive em Belo Horizonte, embarcou por uma companhia aérea angolana, a TAAG. “Nós saímos para São Paulo, onde pegamos o voo, primeiro para Luanda, depois para a Cidade do Cabo (Cape Town). Chegamos e fomos hospedados numa escola, onde aconteceu o curso. Por conta do coronavírus, o curso foi acelerado e acabou antes da hora. Fomos colocados num loft, cuja permanência se encerra na manhã dessa quinta-feira (hoje)”, conta a advogada.
O drama, segundo ela, só não é maior porque será utilizado o cartão de crédito para pagar mais algum tempo de aluguel, pelo menos até o dia 31, que é a data para a qual conseguiram vaga num voo da Latam, para o Brasil, saindo de Johanesburgo.
“Por não sermos originalmente passageiros da Latam, não temos direito à hospedagem. Aqui, procuramos o Consulado do Brasil. Fomos cadastrados. O problema é que eles nos dizem no consulado que não dispõem de recursos para nos manter. Temos gente no grupo que está aqui que não tem condições, recursos para se manter, como nós. Ainda temos dinheiro, que está sendo usado para a compra de comida”.
O problema maior, segundo Marina, é que não há a certeza de que o voo do dia 31 decolará. “Nós já tínhamos sido colocados num voo, no último domingo, mas este acabou cancelado. O voo sairia daqui, da Cidade do Cabo, mas o próximo é de Johanesburgo, que fica a 1.200 quilômetros de onde estamos”.
Esse é outro dilema vivido por Marina e Israel. “Estamos pensando em como sairemos daqui. Pedimos ajuda no consulado, mas eles não deram resposta. Ficaram de tentar ajudar. Se conseguirmos um transporte, de carro alugado, por exemplo, será arriscado, pois o governo da África do Sul está fechando o espaço aéreo e aumentou o controle a partir dessa quarta. Podemos não chegar lá. Sermos parados no caminho e impedidos de seguir viagem”.
Há ainda, segundo ela, um medo maior. “E se, ao chegarmos a Johanesburgo, o voo for cancelado? Como vamos ficar ? Onde vamos ficar. Quem é passageiro da Latam tem a garantia de hospedagem e alimentação. Mas nós estamos sendo repassados de uma companhia, TAAG, para a Latam. Não temos essa garantia. Como vamos ficar ?”.
O temor não está só do outro lado do Atlântico, mas da mesma forma em Belo Horizonte. Os pais de Marina, Gilcélio e Marina, que também vivem em Belo Horizonte, estão apreensivos. “Nós compramos a passagem para eles voltarem no voo que não decolou. E essa passagem está cara. São R$ 18 mil. Mas tem 'oferta' por R$ 20 mil, R$ 32 mil. Queremos nossa filha de volta. É uma covardia o que estão fazendo”, diz o pai.
Itamaraty
Ontem, o Itamaraty emitiu uma nota oficial afirmando que se colocou à disposição. “Ressalta-se que nenhuma Embaixada ou Consulado brasileiros encontra-se fechado. No entanto, por conta das restrições impostas pelas autoridades locais, muitas vezes foi necessário adaptar o regime de trabalho, com horários especiais de atendimento ou teletrabalho, mas sempre com telefone e e-mails emergenciais à disposição.”
O órgão indica ainda que os brasileiros no exterior, ou parentes destes, podem entrar em contato com o órgão por meio de endereços eletrônicos de todos os Consulados do Brasil, disponíveis no Portal Consular do Itamaraty: https://www.portalconsular.itamaraty.gov.br/rede-consular.
No caso específico dos brasileiros que estão na África do Sul, a recomendação é que entrem em contato com a Embaixada em Pretória, por meio do e-mail consular.pretoria@itamaraty.gov.br, ou com o Grupo Especial de Crise para assuntos consulares e migratórios (G-CON), cujo número para casos na África e Oriente Médio é + 55 (61) 9826 00 568.
Ainda segundo a nota, os brasileiros com dificuldades para regressar ao país podem enviar suas informações por formulário que pode ser acessado no endereço: https://t.co/LjJA7xXBw1?amp=1
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