Os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) são fundamentais para a segurança dos profissionais da saúde e pacientes na desaceleração do contágio do coronavírus (COVID-19). No entanto, vários municípios brasileiros não contam com os itens necessários, como máscaras, luvas, entre outros. Do dia 19 de março até o último domingo (29), a Associação Médica Brasileira (AMB) recebeu 2.513 denúncias sobre a falta de materiais.
Deste número, 262 relatos foram enviados de Minas Gerais. A maior parte das denúncias está relacionada à falta de máscaras dos modelos N95 e PFF2, correspondendo a 85% das queixas. Em seguida, com 75%, aparecem óculos e face shield (espécie de máscara protetora). Capote impermeável, gorro, álcool gel 70%, luvas e outros também fazem parte da lista.
Belo Horizonte aparece como a cidade com mais denúncias em Minas, com 48 relatos. Uberlândia, no Triângulo Mineiro, vem em seguida, com 18, um a mais que Juiz de Fora, na Zona da Mata. Uberaba, também no Triângulo, aparece com 10. Já Montes Claros, localizado no Norte do estado, contabilizou nove registros de falta de materiais.
O estado que lidera as estatísticas é São Paulo, com 855 denúncias, sendo 109 municípios relatados. Já o Rio de Janeiro aparece na segunda colocação, com 273 queixas. Um caso que chamou a atenção no estado foi na capital. Profissionais de um hospital em Bangu, na Zona Oeste da cidade, estariam utilizando os mesmos itens descartáveis constantemente. Minas completa o ranking de estados.
Outro dado alarmante: falta álcool gel 70% em 35% dos mais de 1.200 estabelecimentos denunciados. Em 30% dos casos, todos os EPIs estão em falta. Mas quem lidera a lista são as máscaras, em 90% dos relatos. Óculos e/ou face shield (72%), capote impermeável (65%), gorro (46%) e luvas (27%) são os itens que mais estão ausentes em hospitais e unidades de saúde.
O presidente da AMB, Lincoln Ferreira, alerta que a falta de EPIs pode colocar em risco o profissional da saúde e o paciente. O médico alerta sobre a maneira assintomática que a COVID-19 é capaz de atingir alguém, com alto risco de contágio.
“Não dá para você enfrentar uma doença contagiosa sem proteger adequadamente o profissional, por dois motivos: o profissional se infecta, põe a sua saúde em risco e sai da linha de frente para constituir em mais um doente afetado. O profissional da saúde, pela própria característica, pela posição que ele ocupa, no período que ele tem o contato com o vírus e que ele ainda não tem sintomas, ele pode transmitir para outras famílias e para vários pacientes que forem procurar os seus serviços. Então temos uma espiral negativa, ou seja, sem os EPIs, você rapidamente diminui a capacidade de atendimento enquanto aumenta a disseminação da doença”, disse.
Lincoln ressalta que o canal de denúncias da AMB não tem como objetivo encontrar culpados, mas sim achar soluções que garantam segurança para todos os envolvidos em um atendimento.
“A situação neste momento é de crise sanitária. A ideia é que a gente colabore para que ela não se transforme em catástrofe sanitária. O que que pode colaborar para a crise se transformar em catástrofe? O pânico certamente é um desses elementos. Não vamos perder tempo procurando culpados. Não é esse o objetivo. O objetivo é resolver o problema da melhor forma possível. Eu sou gestor de uma cidade x. Chegou até mim que está faltando luvas e aventais. Vou destinar o meu recurso para aquilo que está faltando. Este é o espírito que permeia as ações da AMB”, destacou.
Prevenção é o melhor remédio
Nesta quarta-feira (1º), o Ministério da Saúde admitiu que está encontrando dificuldades para adquirir EPIs no mercado chinês. A principal recomendação passada pelo ministro Luiz Henrique Mandetta foi de redobrar a atenção quanto à prevenção à COVID-19, para que o sistema de saúde não fique sobrecarregado, com risco de faltar ainda mais itens de segurança.
Esta, também, é a principal orientação da AMB. Lincoln Ferreira pede para que a população busque informações técnicas de qualidade e que tenham atenção no cotidiano com pequenos modos, como no momento da tosse e higienização das mãos.
“É fundamental que as pessoas se guiem por informações técnicas adequadas. Há muitas pessoas trabalhando para que a gente tenha um conhecimento racional da doença. Que as pessoas cuidem de si mesmas, ou seja, coisas básicas: lavar a mão, manter distância, etiqueta na hora de tossir, não tocar olhos, boca, nariz. Quando for ao toalete lavar as mão antes e depois. Com isso, a gente consegue retardar ao máximo a proliferação da doença”, concluiu.
Como denunciar?
O profissional da saúde que identificar a ausência de EPIs no centro médico, pode acessar o link e relatar o caso de forma anônima. A partir disso, a AMB comunica os estabelecimentos apontados na denúncia, pede esclarecimentos e atualização das informações, além de notificar o Ministério da Saúde, o Conselho Regional de Medicina (CRM), as Secretarias de Saúde Municipal e Estadual, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Ministério Público.